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ELIANE CANTANHÊDE
Los hermanos
BOGOTÁ - O venezuelano Hugo
Chávez acaba de fazer elogios públicos ao colombiano Álvaro Uribe,
a quem chamou de "irmão".
Irmãos eles não são; são frente e
verso. Tão diferentes, tão parecidos. Chávez, pró-Cuba, anti-Washington, interlocutor das Farc. Uribe, pró-Washington, anti-Cuba, o
presidente que entra para a história
por aniquilar as Farc moral, política
e militarmente.
Chávez, esfuziante, ocupa as páginas internacionais, enquanto racha a sociedade venezuelana ao
meio. Uribe é o oposto: opaco, tem
espaços modestos na mídia e isolou-se ao apostar todas as fichas nos
EUA e violar o território do Equador contra as Farc. Mas, se Chávez
divide, ele uniu a Colômbia como
nunca se viu.
Derrotado por unanimidade na
OEA (Organização dos Estados
Americanos) pela ousada operação
no Equador, Uribe teve uma reação
de "bom cabrito não berra": calmo,
conformado. Hoje se sabe por quê: a
invasão foi um risco calculado. A
perda externa seria fartamente
compensada internamente. Como
foi. Chegou a mais de 80% de aprovação e, com o resgate de Ingrid Betancourt, pode chegar aos 90%.
O mundo inteiro, e as Américas
em particular, rechaçaram a tentativa (afinal malsucedida) de Chávez
de se eternizar no poder. Mas já pipocam apoios aos esforços do vizinho Uribe para mudar mais uma
vez a Constituição e desfrutar um
terceiro mandato.
Chávez não podia, Uribe pode. E
os princípios democráticos? A alternância de poder? Apliquem-se a
um, deixem o outro em paz?
Os EUA, a União Européia e até o
mito Ingrid Betancourt defendem
como a coisa mais natural do mundo a re-reeleição de Uribe. Que, assim, abre as portas para o terceiro, o quarto ou sabe-se lá quantos mandatos nas Américas.
Chávez é o aliado, mas, apesar das
contundentes negativas de Lula,
Uribe pode se tornar bem mais conveniente aos interesses do PT.
elianec@uol.com.br
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