São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Los hermanos

BOGOTÁ - O venezuelano Hugo Chávez acaba de fazer elogios públicos ao colombiano Álvaro Uribe, a quem chamou de "irmão". Irmãos eles não são; são frente e verso. Tão diferentes, tão parecidos. Chávez, pró-Cuba, anti-Washington, interlocutor das Farc. Uribe, pró-Washington, anti-Cuba, o presidente que entra para a história por aniquilar as Farc moral, política e militarmente.
Chávez, esfuziante, ocupa as páginas internacionais, enquanto racha a sociedade venezuelana ao meio. Uribe é o oposto: opaco, tem espaços modestos na mídia e isolou-se ao apostar todas as fichas nos EUA e violar o território do Equador contra as Farc. Mas, se Chávez divide, ele uniu a Colômbia como nunca se viu.
Derrotado por unanimidade na OEA (Organização dos Estados Americanos) pela ousada operação no Equador, Uribe teve uma reação de "bom cabrito não berra": calmo, conformado. Hoje se sabe por quê: a invasão foi um risco calculado. A perda externa seria fartamente compensada internamente. Como foi. Chegou a mais de 80% de aprovação e, com o resgate de Ingrid Betancourt, pode chegar aos 90%.
O mundo inteiro, e as Américas em particular, rechaçaram a tentativa (afinal malsucedida) de Chávez de se eternizar no poder. Mas já pipocam apoios aos esforços do vizinho Uribe para mudar mais uma vez a Constituição e desfrutar um terceiro mandato.
Chávez não podia, Uribe pode. E os princípios democráticos? A alternância de poder? Apliquem-se a um, deixem o outro em paz? Os EUA, a União Européia e até o mito Ingrid Betancourt defendem como a coisa mais natural do mundo a re-reeleição de Uribe. Que, assim, abre as portas para o terceiro, o quarto ou sabe-se lá quantos mandatos nas Américas.
Chávez é o aliado, mas, apesar das contundentes negativas de Lula, Uribe pode se tornar bem mais conveniente aos interesses do PT.

elianec@uol.com.br


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