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CLÓVIS ROSSI
Gravata, luzes e uma dúvida
TÓQUIO - Estranhei quando, na
sexta-feira, Tomohiko Taniguchi,
subsecretário de Imprensa do Ministério japonês de Assuntos Exteriores, me recebeu sem paletó e
sem gravata em plena sede do ministério, contrariando o formalismo associado a servidores públicos,
em especial no Japão.
Depois descobri que o governo japonês adotou o "cool biz" ("negócio
frio"). Calma, brasileiro maroto,
não é o que você está pensando. Esfriar o negócio significa que, nos
meses de verão, é obrigatório trabalhar sem paletó e gravata. A lógica é
simples: menos vestido, o funcionário aceita um ar condicionado menos frio, com o que o país economiza energia.
O mecanismo faz parte de todo
um esforço para reduzir o consumo
de energia. Os especialistas dizem
que o Japão é, de todos os países ricos, o único que realmente manteve
de pé a austeridade energética adotada nos anos 70 por conta do choque do petróleo (com o petróleo a
US$ 145 o barril, o choque dos 70
parece cócega).
Amanhã, haverá outro movimento simbólico: no dia em que começa
a cúpula do G8, o clubão dos sete
países mais ricos do mundo aos
quais se junta a Rússia, os japoneses
estão convidados a apagar as luzes
durante duas horas.
Segundo o jornal "The Yomiuri
Shimbun", há estimativas de que se
todos os cerca de 49 milhões de lares japoneses apagarem suas luzes
por esse tempo, as emissões de gases que provocam o aquecimento
global poderiam ser reduzidas em
15 mil toneladas, o que eqüivale às
emissões de 1 milhão de residências
por dia.
O apagão voluntário está em vigor desde 2003.
Se fosse no Brasil, suspeito que:
1 - O pessoal iria, sim, sem paletó e
gravata, mas o ar condicionado ficaria no nível máximo do mesmo jeito; 2 - Muita gente faria um "gato"
para apagar só a luz do vizinho.
Estou enganado?
crossi@uol.com.br
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