|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Titanic do século 21
BRASÍLIA - O regime Hugo Chávez faz água por todos os lados.
Quinto produtor de petróleo do
mundo, a Venezuela vive uma crise
interna grave, vê minguarem os
seus aliados "esquerdistas" nas
Américas e está pendurada internacionalmente na Rússia e no Irã, o
que já diz tudo.
Chávez fez uma faxina institucional na Venezuela, virou-se de costas
para os EUA e de frente para a América do Sul e planejou investimentos externos e a conversão dos fabulosos lucros do petróleo na transformação da sociedade e da quase
inexistente planta industrial. O
messianismo bobo, porém, afundou todos esses sonhos.
Onze anos depois, a Venezuela
convive com fuga de investidores,
estatizações, fechamento de TVs e
uma crise na economia que não fica
só nos números, mas atinge a vida
das pessoas: que tal racionamento
de água e de energia? Os aliados de
primeira hora pulam do barco.
Chávez também imaginou uma
América do Sul "bolivariana", unida
e pronta a enfrentar a potência com
regimes fechados e discursos a la
Fidel. Falou-se até da "esquerdização" da região, com as eleições na
Bolívia, no Equador e na Nicarágua,
como se houvesse um processo.
Mas o processo engasgou.
O Brasil, em vez de fechar, abre-se para o mundo. Na Colômbia e no
Peru, a aliança com os EUA só recrudesceu. Na Argentina, os Kirchner têm problemas demais para
brincar de esquerdistas. Agora, o
Chile dobra à direita, e Honduras
corta o fio da meada bolivariana na
América Central e no Caribe.
A Rússia tem o pior desempenho
dos Bric na crise econômica, e o Irã,
isolado da comunidade internacional e matando seus dissidentes políticos e religiosos, só pensa naquilo: enriquecer urânio. Ambos têm
mais o que fazer do que embalar a
Venezuela.
Chávez sonhava com o "socialismo do século 21". Os venezuelanos
acordam no "titanic do século 21" e
sem comandante alternativo.
Texto Anterior: São Paulo - Sérgio Malbergier: Lula "lame duck" Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Flor do asfalto Índice
|