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O FIM DE UMA ETAPA
A configuração do quadro
eleitoral revelada pela mais recente pesquisa do Datafolha marca o
final de um estágio preliminar na
disputa pela sucessão do presidente
Fernando Henrique Cardoso. Não
há registro na história recente de
processo que tenha começado tão
cedo e cujos pontos de inflexão tenham sido tão intimamente relacionados ao tempo de exposição dos
pré-candidatos no rádio e na TV. E o
principal resultado da enquete que
este jornal publica hoje é mais uma
prova desse último fenômeno.
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que na sondagem anterior aparecia na quarta colocação com 11%,
subiu sete pontos percentuais e se
encontra no segundo lugar empatado tecnicamente com o candidato
governista José Serra, cuja intenção
de voto oscilou de 21% para 20%. A
preferência por Luiz Inácio Lula da
Silva parece que não sofreu grandes
danos com as notícias sobre um esquema de propinas montado na Prefeitura de Santo André. O petista, que
no início de junho aparecia com
40%, agora soma 38%.
Ciro Gomes, candidato pela Frente
Trabalhista, foi o presidenciável que
mais apareceu no rádio e na TV no
mês passado. Devido a deliberações
da Justiça Eleitoral, não pôde usufruir pessoalmente do tempo total do
PDT e do PTB. Ainda assim, a sua
propaganda usou de subterfúgios os
quais garantiram que a mensagem
da candidatura fosse transmitida ao
público com bastante clareza. Talvez
o resultado mais notável dessa megaexposição tenha sido o desempenho de Ciro Gomes nas simulações
de segundo turno. Segundo o Datafolha, o ex-governador é o que, hoje,
se sairia melhor contra Lula numa
disputa final. Com 44%, surge empatado tecnicamente com o petista,
que alcança 47%.
Em suma, desde a ascensão vertiginosa da então governadora Roseana
Sarney, não conheceu exceções a regra da relação direta entre desempenho nas pesquisas e aparição nos
meios de comunicação de massa.
Mas agora o terreno sobre o qual a
disputa pelo Planalto será travada
muda substancialmente. Cessam as
vantagens comparativas de um candidato que é superexposto na mídia
enquanto os outros dormitam numa
zona de penumbra. Os quatro principais contendores -desde ontem
nos comícios e aparições públicas e,
sobretudo, a partir de 20 de agosto
no horário eleitoral gratuito- terão,
simultaneamente, oportunidades de
falar e de ser ouvidos.
O fato de o candidato do governo
levar vantagem na divisão do tempo
de TV não quer dizer, necessariamente, que vá transformá-la em
mais votos. Serra demonstra dificuldades para reproduzir no plano eleitoral a consolidação que sua candidatura conquistou no plano político.
Além disso, ainda está na memória o
pleito de 1989, em que Collor e Lula
se qualificaram para o segundo turno sem que tivessem os maiores quinhões da propaganda gratuita.
Seria exagerado dizer que, a partir
deste momento, o jogo da sucessão
parte do zero. Mais exato é considerar que a fase que se está iniciando
vai ajudar a precisar qual a verdadeira
herança que cada candidatura traz da
fase preliminar. Depende disso a definição do nome que, em 1º de janeiro, receberá a faixa presidencial de
Fernando Henrique Cardoso.
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