São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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O FIM DE UMA ETAPA

A configuração do quadro eleitoral revelada pela mais recente pesquisa do Datafolha marca o final de um estágio preliminar na disputa pela sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não há registro na história recente de processo que tenha começado tão cedo e cujos pontos de inflexão tenham sido tão intimamente relacionados ao tempo de exposição dos pré-candidatos no rádio e na TV. E o principal resultado da enquete que este jornal publica hoje é mais uma prova desse último fenômeno.
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que na sondagem anterior aparecia na quarta colocação com 11%, subiu sete pontos percentuais e se encontra no segundo lugar empatado tecnicamente com o candidato governista José Serra, cuja intenção de voto oscilou de 21% para 20%. A preferência por Luiz Inácio Lula da Silva parece que não sofreu grandes danos com as notícias sobre um esquema de propinas montado na Prefeitura de Santo André. O petista, que no início de junho aparecia com 40%, agora soma 38%.
Ciro Gomes, candidato pela Frente Trabalhista, foi o presidenciável que mais apareceu no rádio e na TV no mês passado. Devido a deliberações da Justiça Eleitoral, não pôde usufruir pessoalmente do tempo total do PDT e do PTB. Ainda assim, a sua propaganda usou de subterfúgios os quais garantiram que a mensagem da candidatura fosse transmitida ao público com bastante clareza. Talvez o resultado mais notável dessa megaexposição tenha sido o desempenho de Ciro Gomes nas simulações de segundo turno. Segundo o Datafolha, o ex-governador é o que, hoje, se sairia melhor contra Lula numa disputa final. Com 44%, surge empatado tecnicamente com o petista, que alcança 47%.
Em suma, desde a ascensão vertiginosa da então governadora Roseana Sarney, não conheceu exceções a regra da relação direta entre desempenho nas pesquisas e aparição nos meios de comunicação de massa.
Mas agora o terreno sobre o qual a disputa pelo Planalto será travada muda substancialmente. Cessam as vantagens comparativas de um candidato que é superexposto na mídia enquanto os outros dormitam numa zona de penumbra. Os quatro principais contendores -desde ontem nos comícios e aparições públicas e, sobretudo, a partir de 20 de agosto no horário eleitoral gratuito- terão, simultaneamente, oportunidades de falar e de ser ouvidos.
O fato de o candidato do governo levar vantagem na divisão do tempo de TV não quer dizer, necessariamente, que vá transformá-la em mais votos. Serra demonstra dificuldades para reproduzir no plano eleitoral a consolidação que sua candidatura conquistou no plano político. Além disso, ainda está na memória o pleito de 1989, em que Collor e Lula se qualificaram para o segundo turno sem que tivessem os maiores quinhões da propaganda gratuita.
Seria exagerado dizer que, a partir deste momento, o jogo da sucessão parte do zero. Mais exato é considerar que a fase que se está iniciando vai ajudar a precisar qual a verdadeira herança que cada candidatura traz da fase preliminar. Depende disso a definição do nome que, em 1º de janeiro, receberá a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso.



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