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MÃOS VISÍVEIS
A clássica metáfora das
"mãos invisíveis" para descrever o funcionamento dos mercados
está novamente revelando suas limitações. A desvalorização do dólar
nos mercados mundiais, especialmente em relação ao euro, recolocou
em evidência propostas de coordenação entre as políticas econômicas
dos países industrializados.
As mãos visíveis dos governos dos
EUA, da União Européia e do Japão
procurariam coordenar-se para conquistar alguma estabilidade para as
taxas de câmbio. O problema é que,
nas últimas três décadas, tentativas
semelhantes de coordenação de políticas econômicas acabaram desacreditadas, quando não contribuíram
para o agravamento de instabilidades e desequilíbrios.
Nos anos 70, Washington adotava
um estilo keynesiano de atuação, baseado na intervenção estimulante do
Estado quando a economia dá sinais
de fraqueza. O ambiente econômico
evoluiu para um cenário de inflação.
No início dos anos 80, consolidou-se a opção pelo monetarismo. Os governos conservadores deixaram aos
mercados a tarefa de produzir taxas
de câmbio equilibradas. O fracasso
se manifestou como valorização do
dólar e aumento do déficit externo
norte-americano. Em 1985, o Acordo
do Plaza marcou nova tentativa de
cooperação que levou o então G-5 a
esforços para desvalorizar o dólar.
Em 1987, foi necessário fazer nova
mobilização, mas o "crash" em Wall
Street inviabilizou a busca do equilíbrio, levando o dólar a desvalorização muito maior que a esperada.
Desde então, o sistema internacional tem sido marcado por políticas
fiscais e monetárias cada vez menos
coerentes. A instabilidade cambial e
o descontrole fiscal tornaram-se praticamente universais. São portanto
reduzidas as chances de êxito da
coordenação macroeconômica, seja
para regular os mercados internacionais de câmbio, seja para inverter um
quadro global sombrio de crescimento econômico muito baixo.
A dimensão mais dramática da incapacidade de formulação e implementação de uma política econômica global é a da contenção de crises
financeiras. Tanto os governos dos
países ricos quanto os organismos
financeiros multilaterais sabem fazer
apenas uma coisa: coordenar-se para
cobrar dos países devedores políticas
draconianas que supostamente asseguram sua solvência externa.
Na prática, esse receituário falhou
também. As crises especulativas jogaram por terra os modelos de estabilização e ajuste estrutural. Tanto
quanto os países ricos, os países em
desenvolvimento foram incapazes
de implementar políticas monetárias
e fiscais sustentáveis.
Há um fenômeno que explica a fragilização dos Estados e a inviabilidade de suas políticas econômicas. É a
globalização marcada pela desregulação dos fluxos de capital, que condiciona as ações dos governos. As
mãos da intervenção estatal, embora
visíveis, se tornaram insuficientes
para enfrentar a crônica instabilidade da economia mundial.
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