São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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MÃOS VISÍVEIS

A clássica metáfora das "mãos invisíveis" para descrever o funcionamento dos mercados está novamente revelando suas limitações. A desvalorização do dólar nos mercados mundiais, especialmente em relação ao euro, recolocou em evidência propostas de coordenação entre as políticas econômicas dos países industrializados.
As mãos visíveis dos governos dos EUA, da União Européia e do Japão procurariam coordenar-se para conquistar alguma estabilidade para as taxas de câmbio. O problema é que, nas últimas três décadas, tentativas semelhantes de coordenação de políticas econômicas acabaram desacreditadas, quando não contribuíram para o agravamento de instabilidades e desequilíbrios.
Nos anos 70, Washington adotava um estilo keynesiano de atuação, baseado na intervenção estimulante do Estado quando a economia dá sinais de fraqueza. O ambiente econômico evoluiu para um cenário de inflação.
No início dos anos 80, consolidou-se a opção pelo monetarismo. Os governos conservadores deixaram aos mercados a tarefa de produzir taxas de câmbio equilibradas. O fracasso se manifestou como valorização do dólar e aumento do déficit externo norte-americano. Em 1985, o Acordo do Plaza marcou nova tentativa de cooperação que levou o então G-5 a esforços para desvalorizar o dólar. Em 1987, foi necessário fazer nova mobilização, mas o "crash" em Wall Street inviabilizou a busca do equilíbrio, levando o dólar a desvalorização muito maior que a esperada.
Desde então, o sistema internacional tem sido marcado por políticas fiscais e monetárias cada vez menos coerentes. A instabilidade cambial e o descontrole fiscal tornaram-se praticamente universais. São portanto reduzidas as chances de êxito da coordenação macroeconômica, seja para regular os mercados internacionais de câmbio, seja para inverter um quadro global sombrio de crescimento econômico muito baixo.
A dimensão mais dramática da incapacidade de formulação e implementação de uma política econômica global é a da contenção de crises financeiras. Tanto os governos dos países ricos quanto os organismos financeiros multilaterais sabem fazer apenas uma coisa: coordenar-se para cobrar dos países devedores políticas draconianas que supostamente asseguram sua solvência externa.
Na prática, esse receituário falhou também. As crises especulativas jogaram por terra os modelos de estabilização e ajuste estrutural. Tanto quanto os países ricos, os países em desenvolvimento foram incapazes de implementar políticas monetárias e fiscais sustentáveis.
Há um fenômeno que explica a fragilização dos Estados e a inviabilidade de suas políticas econômicas. É a globalização marcada pela desregulação dos fluxos de capital, que condiciona as ações dos governos. As mãos da intervenção estatal, embora visíveis, se tornaram insuficientes para enfrentar a crônica instabilidade da economia mundial.



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