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CLÓVIS ROSSI
Declaração de guerra
BUENOS AIRES - Se os mercados não
engolem Luiz Inácio Lula da Silva
nem que ele seja proclamado santo
pela Igreja Católica Apostólica Romana, tremo de pavor só de pensar
na hipótese de as pesquisas indicarem, doravante, um segundo turno
entre Lula e Ciro Gomes.
Antes que venham os patrulheiros,
aviso: não tenho nada contra Lula,
Ciro, José Serra ou Anthony Garotinho. Escolher um deles é direito inalienável e exclusivo do eleitor, digam
o que disserem os mercados.
Estou apenas apontando fatos prováveis. Um deles: se Ciro e Serra continuarem colados, cada um deles será
tentado a bombardear o outro em
vez de se preocupar com o líder em
todas as pesquisas, que é Lula.
Afinal, com perdão pela obviedade,
o importante, nesta fase, é passar para o segundo turno. Ganhar a eleição
é o segundo tempo.
Se, de fato, os dois se trucidarem
mutuamente, Lula será mais ou menos poupado e, portanto, terá mais
facilidades para manter a liderança.
Por extensão, os nervos dos mercados
continuarão crispados.
O estrago que podem provocar, a
partir daí, são imensos. No mínimo
tornar-se-á mais difícil chegar ao fim
do governo Fernando Henrique
"com tranquilidade", ao contrário do
que o presidente disse em Buenos Aires que acontecerá.
O diabo é que não há muita coisa a
fazer. Há um punhado de gente pedindo clareza, transparência ou coisas parecidas aos candidatos (a todos, mas principalmente aos de oposição). É o tipo do pedido platônico,
para defini-lo de alguma forma. O jogo nos mercados, pelo menos em sua
maior parte, não se faz a partir de
programas, plataformas, promessas,
clarezas etc.
É feito baseado em percepções que
podem ou não coincidir com a realidade. A percepção dos mercados é a
de que Serra é o candidato-amigo. Os
outros são, por definição, inimigos.
Logo, dois "inimigos" juntos no segundo turno é dose para declaração
de guerra. Azar nosso.
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