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ELIANE CANTANHÊDE
Ciro e Serra
BRASÍLIA - A crise econômica joga uma pitada de desconfiança na tese
de que a eleição será fatalmente polarizada entre o apelo da oposição de
esquerda e a força do governo.
O eleitorado que é contra o governo, mas não atravessa toda a avenida até Lula, pára no meio do caminho. Aí se encontra Ciro Gomes.
O espaço foi sonhado por Itamar
Franco, que não teve suporte, ocupado por Roseana Sarney, que desistiu,
e disputado por Anthony Garotinho,
que não teve fôlego. A vez é de Ciro.
Estrategicamente, Ciro surrupiou
de Serra a tese subliminar da "continuidade sem continuísmo". Ex-tucano e ex-ministro da Fazenda, defende a estabilidade e os tais fundamentos macroeconômicos. Como dissidente, critica tudo o mais à vontade,
com o tom da mais pura oposição.
O alvo é o eleitorado feminino
(zangado com o governo, mas rejeita
Lula), o pequeno e médio empresário, o agricultor, o lojista, o funcionário. A oposição conservadora, contra
o governo e contra o vermelho do PT.
Taticamente, Ciro é o típico caso de
"quem rim por último ri melhor".
Roseana gastou cedo seus cartuchos
na TV. Lula só confirmou a dianteira, Serra cresceu o suficiente para garantir o apoio do PMDB, Garotinho
teve seus 15 minutos de glória. Ciro,
esperto, concentrou sua exposição
antes da campanha oficial nas ruas
(iniciada ontem), das entrevistas na
TV e da propaganda eleitoral gratuita. Chega na fase decisiva com o gás
de mais de cem minutos de aparição
ao lado da super Patrícia Pilar.
Com Lula firme na liderança, a
eleição já teve Serra contra Roseana e
Serra contra Garotinho. Agora, é Serra contra Ciro. A dúvida é entre a
consistência da candidatura Ciro e a
capacidade de Serra de vencer o último obstáculo do primeiro turno.
Há dois fatores decisivos nessa gangorra: a situação econômica, incluindo os aumentos de gasolina, luz etc. e
o desempenho pessoal de cada um
-nos palanques e na telinha.
Ciro acusa a imprensa de fazer
uma aposta errada na tese de Lula
versus governo (leia-se Serra). Pagou
para ver. As cartas estão na mesa.
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