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Editoriais
Clima de negociação
Reunião do G8 no Japão pode registrar avanço na questão do aquecimento global; Brasil e China já emitem sinais positivos
A REUNIÃO DO G8 que começa hoje no Japão, se
não for monopolizada
pela crise econômica
internacional, tem chances de
registrar algum avanço no segundo ponto mais importante da
pauta, o aquecimento global. O
governo do país anfitrião persegue com afinco esse objetivo.
Tal empenho não constitui garantia de sucesso. Isso ficou patente na Alemanha durante a última reunião dos sete países
mais ricos e a Rússia, há um ano.
A proposta da chanceler Angela
Merkel de cortar em 50% as
emissões de gases do efeito estufa até 2050 terminou derrotada.
Movimentações recentes no
bloco de cinco nações emergentes convidadas - África do Sul,
Brasil, China, Índia e México, o
G5-, contudo, sugerem que um
acordo mundial para conter o
aquecimento global pode começar a sair do presente impasse.
Os 13 países concentram quase
três quartos das emissões mundiais. Qualquer passo adiante dado por eles facilitaria a negociação internacional de um acordo
pós-Kyoto. Ela deve ser finalizada até dezembro de 2009, mas se
encontra hoje paralisada pelo
embate entre nações emergentes, como China, Índia e Brasil, e
os EUA, que exigem delas a adoção de metas de redução.
Partiu do Brasil, quarto emissor mundial por força do desmatamento, um dos sinais positivos. O presidente Lula, em entrevista ao diário japonês "Yomiuri
Shimbun", admitiu pela primeira vez que nações do G5 e outras
menos desenvolvidas poderiam
assumir compromissos contra o
aquecimento global. "O cumprimento de metas quantitativas
tem de ser proporcional à responsabilidade de cada país:
quem mais polui tem metas
maiores, e quem menos polui
tem metas menores", disse.
Um dia depois, partiu da China
-segundo maior emissor, atrás
dos EUA- outra manifestação
discreta de flexibilidade. Su Wei,
da direção da Comissão Nacional
de Desenvolvimento e Reforma
(órgão máximo de planejamento), assim como Lula, reafirmou
em entrevista o princípio da responsabilidade diferenciada dos
países ricos. Mas disse que a China está aberta para debater metas de médio e longo prazo.
Uma interpretação possível é
que os chineses já considerem
assumir compromissos para
2050, se os países desenvolvidos
admitirem metas mais drásticas
para 2020. Caso a Índia faça aceno similar, os EUA ficariam ainda mais isolados em seu obstrucionismo, posição que de resto
deve ser abrandada após a eleição presidencial de novembro.
Outra idéia capaz de fazer a negociação avançar vem dos anfitriões. O Japão passou a investir
em eficiência energética já na década de 1970 e hoje tem a melhor
relação entre PIB e emissões, ou
seja, quanto carbono é emitido
para cada dólar produzido. Sugere que seus níveis de desempenho sirvam de base para metas
de redução de emissões por setores da indústria mundial, não por
país, criando amplo mercado para suas tecnologias limpas.
Se a reunião do G8+5 puder
avançar nalguma dessas direções
inovadoras, pouco que seja, concluir em 17 meses um novo acordo mundial sobre o clima parecerá bem menos irrealizável.
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