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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O tucano e o papagaio
SÃO PAULO - Alckmin e dona Lu
tomam café da manhã. Com a fisionomia ainda marcada pelo sono, ela
sorri, distribuindo simpatia. Atrás
dela, um pouco à esquerda sobre o
encosto da cadeira, o papagaio do
casal tem o rosto virado para o tucano, que parece retribuir o olhar.
Tem-se a impressão de que Zé
Carioca e Alckmin conversam,
compenetrados. O ambiente de
classe média retratado pela foto na
Folha de ontem lembra um cenário
de novela, de tão típico. Se o tucano
tivesse não um papagaio, mas um
cachorro, seu nome seria Rex.
Podemos imaginar a conversa
entre Alckmin e Zé Carioca com o
resultado do Datafolha na mão:
- Eu falei, Zé, não quiseram me
escutar. Com o PT não se brinca.
Subestimaram o poder de fogo deles, agora a mulher taí, com 38%. E
quem pode derrotá-la? Só eu, Zé,
mais ninguém. Quero ver agora o
que o outro Zé, o Serra, vai fazer. O
candidato dele tá lá, empacado nos
13%. Kassab é inviável, eu avisei, Zé.
Vão continuar brincando? Será que
querem perder a eleição?
Zé Carioca poderia lembrar a
Alckmin o que ele mesmo dizia
quando estava lá embaixo nas pesquisas, em eleições passadas: a
campanha só começa de verdade
depois do horário gratuito na TV.
Sim, pode ser, mas Kassab não precisa do papagaio para saber que sua
situação ficou preta.
O prefeito está montado numa
máquina de guerra: tem o respaldo
da turma do governador, muito
mais dinheiro e o dobro do tempo
de exposição na TV em relação ao
rival tucano. É quase certo que
cresça alguma coisa. Mas sua tarefa
é inglória: tirar, em menos de três
meses, 18 pontos de vantagem de
um adversário cuja taxa de rejeição
(18%) é bem mais baixa que a dele,
Kassab -30%, como a de Marta.
Polarizado como está entre PT e
PSDB, o quadro eleitoral deve obrigar Serra a tirar pelo menos um pé
da canoa de Kassab para colocá-lo
no barquinho alckmista. Os kassabistas do PSDB estão condenados a
um dilema shakespeariano: ser ou
não ser Zé Carioca, eis a questão.
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