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MARINA SILVA
Antes ou só depois
DEFINIDAS AS candidaturas,
move-se a roda das eleições
municipais. Hora de cobrar
dos candidatos compromisso com
os temas que realmente interferem
em nossas vidas.
Como já se disse, pessoas não
moram nos mapas da União ou dos
Estados. Estão nos municípios, no
território onde as coisas acontecem, onde os problemas ambientais e sociais ganham cara, números, gravidade e gente diretamente
afetada.
Tome-se o caso das mudanças
climáticas globais. O nome imponente sugere algo da alçada de especialistas e de poderosos, não de
cidadãos comuns ou de eleições
municipais. Mas talvez falte exatamente a entrada em cena dos cidadãos comuns para que a coisa ande.
O IBGE, nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2008,
mostra vários indicadores negativos ou em evolução lenta na área
ambiental, apesar de avanços como
o aumento de 6,5% para 8,3% da
área protegida em unidades de
conservação federais. Há, de um lado, baixa capacidade institucional
dos municípios para atingir bons
níveis de sustentabilidade. A maioria ainda não tem secretaria ou
conselho de meio ambiente. De outro, os municípios tiveram o maior
aumento proporcional dos gastos
públicos em meio ambiente, entre
1996 e 2004: de 0,4% para 1,1% do
total das despesas. Os federais ficaram entre 0,3% e 0,4%, e os estaduais foram de 0,6% para 0,8%.
Há também algo diferente no ar:
aumentou o número de candidatos
municipais interessados em abordar meio ambiente em seus programas, sinal de que não há mais
como ignorar o tema.
Como presidente da Subcomissão das Águas no Senado, participei da visita ao Sistema Cantareira
e da reunião do comitê da bacia dos
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí,
nos dias 26 e 27 de junho. Parte
dessas águas é transposta para
abastecer a cidade de São Paulo. O
sistema está perto do limite. Foi
gratificante ver prefeitos, técnicos,
representantes de empresas, da
academia e de ONGs unidos na
busca de soluções para a escassez.
Os investimentos para suprir a
demanda são enormes e cobrem
períodos cada vez mais curtos. Há
algumas décadas, o volume de recursos para proteger mananciais e
planejar a ocupação urbana teria
sido muito menor do que o necessário agora para captar água em locais cada vez mais distantes.
Pode a consciência ambiental
gerar novas atitudes sem a pressão
do prejuízo econômico e da privação dramática de recursos vitais? O
comprometimento antecipado de
eleitores e candidatos com essas
questões, no quintal das eleições
municipais, pode ser uma chance
para responder que sim.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA 0escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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