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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Transgênicos e a brilhante sentença
Inicia-se na próxima quarta-feira,
em Cancun (México), mais uma
rodada de negociações na OMC. Na
última reunião (Doha, Qatar), os europeus concordaram em reduzir os
subsídios à agricultura, mas tudo foi
escrito em uma linguagem vaga e maliciosamente evasiva.
Em reunião conjunta, realizada em
meados de agosto, a União Européia e
os Estados Unidos firmaram uma posição de reduzir só alguns subsídios, e
mesmo assim só para países que não
são fortes na agropecuária -o que
atinge o Brasil. Ademais, não disseram quais são os produtos que entrarão na lista de redução nem a data do
início do processo.
O ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues, terá muito o que reclamar
em Cancun. O protecionismo prejudica os brasileiros. Vejam o caso do trigo. Na década de 90, o Brasil produzia
apenas 25% do consumo nacional.
Hoje, produz mais de 50%. A safra de
2003 será de 5 milhões de toneladas. A
área plantada aumentou 16% em relação à do ano passado.
Isso é ótimo para o mercado interno
e saudável para a nossa balança comercial, pois podemos gastar os nossos dólares com outros produtos. O
aumento da produção e da produtividade se deveu aos preços favoráveis
no mercado internacional, às pesquisas de melhoramento genético e ao
uso de biotecnologia, que aperfeiçoaram o produto de forma expressiva.
A biotecnologia acena com a possibilidade de assegurar não só mais produção mas, sobretudo, melhor qualidade a preços menores. Os novos
grãos carregam consigo uma série de
complementos vitamínicos e fatores
de resistência que podem fazer bem à
saúde das pessoas.
Tais avanços continuam sendo atacados pelos que vêem nesses alimentos uma fonte de doenças e de alterações da genética humana. Até o momento, nada foi comprovado, como
bem atesta a longa e brilhante sentença da desembargadora Selene Maria
de Almeida, proferida no mês passado
no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Aconselho todos os que não confiam nos transgênicos a lerem esse parecer de cerca de 700 páginas.
Todos sabem que, por trás desse debate pseudocientífico, há uma aguerrida batalha comercial. Sim, porque os
alimentos transgênicos demandam
uma quantidade infinitamente pequena de produtos químicos -o que
também é bom para a saúde-, mas
ferem os negócios dos que vivem da
produção e da comercialização desses
insumos.
No caso do trigo, variedades transgênicas são resistentes às principais
doenças, exigem poucos produtos
químicos e atingem a produtividade
de 5.000 quilos por hectare quando a
média é de menos de 4.000 quilos por
hectare. Tudo isso é muito promissor
para os seres humanos e para a economia.
Não podemos ficar inertes no meio
das manobras dos protecionistas vindas principalmente dos países europeus. Enquanto isso, nossos concorrentes inundam o mercado com grãos
geneticamente modificados deixando
o Brasil em desvantagem na acirrada
concorrência internacional.
Esse debate não pode prosseguir na
base do "eu acho".
O governo brasileiro tem de assumir
uma posição mais firme, pois, afinal,
somos um dos maiores produtores
agrícolas, e a agricultura está sendo o
carro-chefe do nosso anêmico crescimento econômico.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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