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CARLOS HEITOR CONY
Brasil brasileiro
RIO DE JANEIRO - Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o
Brasil. Os dois não acabaram, ainda,
mas a frase continua valendo, desde
que me sigam os que forem brasileiros, dos filhos deste solo mãe gentil e
pátria amada.
Certo: nossos bosques têm mais flores, nossas flores mais amores e, se erguemos da justiça o braço forte, veremos que um filho seu não foge à luta
nem teme quem te adora a própria
morte. É bem verdade que, nas horas
vagas, que são muitas, somos o brasileiro cordial, que levanta o lindo pendão da esperança, símbolo augusto
da paz. (Tive um tio que se chamava
Augusto e sempre que ouvia o hino
da bandeira pensava que o augusto
citado fosse ele).
Independência ou morte -o grito
às margens plácidas do Ipiranga está
sendo prorrogado pela primeira medida provisória da nova nação, onde
em se plantando tudo dá, até o coqueiro que dá coco. Não veremos país
nenhum como este, e por isso me ufano e amo-o sem deixá-lo, desde que o
último apague a luz do aeroporto.
"A Pátria!" -disse o tribuno com a
voz embargada. E mais não disse
nem precisava dizer, todos entenderam que pátria era, a dele, tribuno, e
a nossa, onde o sol da liberdade em
raios fúlgidos brilhou no céu da própria neste instante.
Um raio de esperança aterra e desce dentro de mais um minuto estaremos no Galeão, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, terra
mais garrida do que a Alda Garrido,
quem foi que inventou o Brasil? Não
fui eu nem ninguém, foi a mulata assanhada, que é luxo só, abençoada
por Deus e bonita por natureza, cujo
seio formoso retrata este céu de puríssimo azul, a beleza sem par destas
matas e o esplendor do Cruzeiro do
Sul.
"Tenho dito!" -disse o orador que
não dissera nada que prestasse. Ou o
Brasil acaba com os oradores ou os
oradores acabam com o Brasil.
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