São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Missão de paz no Líbano BETTY MILAN
Entre o Líbano e o Brasil "existiu e
ainda existe um vazio", como disse
Lula, na abertura do encontro Planeta
Líbano, em São Paulo, que reuniu empresários libaneses de 20 países diferentes.
Tudo era diferente do Líbano no "País da Cobra Grande", e foi preciso muito convicção e muita energia para se radicar e fazer esta América, que era pobre, embora pródiga no fruto da providência, cujo casco é o do ouro, o abacaxi. E os libaneses se radicaram e fizeram a América, ensinando a tolerância, por conhecerem a guerra e saberem da paz que reinou no seu país entre os melquitas, os greco-ortodoxos, os maronitas, os sunitas e os xiitas -eles todos comungando no mesmo culto dos negócios. Com a tolerância, ensinaram o comércio, a sua grande tradição. Não foi por acaso que Lula evocou a figura do mascate ao assumir a Presidência, dizendo que queria um mascate em cada embaixada do Brasil no exterior. E ele tem razão de levar para o Líbano a maior comitiva de brasileiros que já visitou o mundo árabe. Nós só temos a ganhar conhecendo melhor uma cultura que moldou a nossa e mostrando ao Líbano de hoje o quão libanês o Brasil é. Com isso, o comércio entre os dois países poderá efetivamente se desenvolver. As trocas ainda são ínfimas -apenas US$ 60 milhões de exportações brasileiras e US$ 1 milhão de exportações libanesas. E o Líbano , por sua vez, só tem a ganhar recebendo a comitiva de um país que tende a ser um difusor de paz, porque não exclui nenhuma religião. O Líbano e o resto do Oriente Médio, que é tão pouco libanês e não tem mais nos Estados Unidos a sua referência. Pelo contrário. Se o único resultado da viagem do presidente fosse taxar a venda de armas para combater a fome no mundo, já seria um sucesso. Trata-se de um objetivo fundamental numa zona que precisa de pacifistas para voltar à cultura da tolerância e recusar o fanatismo dos loucos de Deus. E a comitiva será exemplar se, além de homens de negócio, levar mulheres exemplares pela sua competência e liberdade -com um estatuto diferente do estatuto da mulher islamita-, bem como intelectuais e artistas capazes de revelar ao mundo árabe a particularidade de uma cultura ocidental moldada secularmente pela mestiçagem, contrária à guerra de civilizações e à vontade de vingança planetária que hoje nos acomete. Desacreditar a idéia de que a confrontação entre os povos é inevitável é tão importante quanto desenvolver o comércio. Criticar o antiamericanismo e a islamofobia crescentes. Fome Zero implica violência zero. Os dois programas andam juntos. Betty Milan, escritora e psicanalista, é autora de "A Paixão de Lia", entre outros livros. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Geraldo Brindeiro: As Nações Unidas contra o terrorismo Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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