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AVALIAÇÃO DO ENSINO
A proposta do novo sistema de
avaliação do ensino superior
apresentada pelo Ministério da Educação (MEC) parece bastante razoável. Ela preserva o essencial do sistema anterior e traz algumas novidades que poderão revelar-se úteis. Em
que pesem alguns traços populistas,
aparentemente contornáveis, o projeto é uma tentativa de aprimorar o
sistema, que poderá dar resultados.
O plano, batizado de Ides (Índice
de Desenvolvimento do Ensino Superior), mantém o provão, alterando
sua periodicidade e, nos cursos mais
populosos, utilizando apenas uma
amostragem de alunos, e não a totalidade do corpo discente. De fato,
não há necessidade de realizar o provão anualmente. Como as avaliações
anuais já demonstraram, mudanças
importantes nos cursos só são perceptíveis em prazos mais dilatados.
Três anos é uma aposta aceitável. É
também interessante a sugestão de
submeter o aluno a uma avaliação no
primeiro ano e a outra quando deixa
o curso. Com isso, poderá aferir-se
quanto a faculdade de fato agregou à
formação do estudante.
A utilização de amostragem recebeu algumas críticas. Elas podem ou
não proceder. Tudo dependerá de
como a amostra será selecionada, o
que tem conexão direta com a forma
final da lei e, principalmente, com a
sua regulamentação.
Será preciso que o aluno que faz a
prova tenha sua nota registrada no
histórico escolar, de modo a evitar
sabotagens. Note-se que ficará prejudicada a idéia da gestão anterior de
que um dia o mercado utilizasse as
notas do provão para selecionar profissionais. Isso só seria possível se todos os formandos tivessem notas, o
que não ocorrerá com a amostragem. A vantagem do novo sistema
seria o custo. Com a redução das despesas, a avaliação poderia ser estendida a outros cursos que hoje não
passam por nenhum escrutínio.
O novo projeto também mantém a
avaliação das condições de oferta,
como instalações físicas, bibliotecas,
laboratórios, produção científica,
pós-graduação, qualificação do corpo docente etc.
Outra novidade, mais polêmica, fica por conta do "comprometimento
social da instituição". A idéia aqui é
premiar faculdades que tenham
maior envolvimento com a "comunidade". Os avaliadores deverão considerar itens como cotas para negros,
ensino à distância, preocupação em
dar resposta a problemas nacionais e
regionais etc. São critérios que, a título de revestir a avaliação de caráter
"politicamente correto", parecem
propensos a demagogias e desvios. É
claro que é importantíssimo formar,
por exemplo, engenheiros capacitados para resolver problemas de
transporte público. Mas o país também precisa de profissionais aptos a
projetar aviões e foguetes. Será que
pela lógica educacional petista a universidade que forma o segundo tipo
de engenheiro deve ser "punida"?
Para que esse aspecto discutível do
Ides não se transforme em fonte de
deformações, cada item avaliado
precisa ter a sua nota divulgada separadamente. Essa, aliás, é uma exigência básica. Se, ao contrário, todos
os aspectos considerados forem fundidos numa única nota, sem oferecer
à população a oportunidade de julgar
cada elemento em separado, então a
burocracia terá triunfado sobre a
transparência, e o Ides, lamentavelmente, representará não um avanço,
mas um retrocesso.
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