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ELIANE CANTANHÊDE
Apagão
BRASÍLIA - Seria cômico se não fosse trágico. Menos de um mês depois de
anunciar o programa Luz para Todos, o governo passou pelo vexame de
ver o Itamaraty parado e às escuras
por mais de uma hora na sexta-feira.
Motivo: a CEB (Companhia de Eletricidade de Brasília) cortou a luz por
falta de pagamento.
Enquanto isso, Lula visita países
árabes com 17 pessoas, logo depois de
prometer mundo e fundos à África e
de perdoar a dívida da Bolívia com o
Brasil. Coisa de pobre. Singela. Bonita. Você não tem onde cair morto,
mas divide metade da coxa de frango
com o vizinho. E leva solidariedade
aos parentes distantes com os quais
se sente em dívida-caso da África.
A luz foi cortada bruscamente no
Itamaraty. Computadores caíram,
faxes pararam, uma senhora ficou
presa no elevador, teve uma crise de
pressão alta e baixou no serviço médico. Mais sorte teve a Polícia Federal. Apesar de também dever fortunas à CEB, o órgão deu um sorriso,
arranjou a grana e quitou o débito
em questão de horas. Escapou por
pouco do vexame e do pandemônio
que atingiram o imponente prédio do
Itamaraty, cercado de vidros e de espelhos-'água e habitado pelos funcionários mais chiques da República.
Em comum, Itamaraty e Polícia Federal têm duas coisas. São órgãos e
carreiras de Estado, dessas imprescindíveis, com concursos difíceis, servidores de elite. E, apesar da pindaíba, são justamente as áreas em que o
governo Lula está indo melhor.
Se o apagão fosse no ministério ou
secretaria da Benedita, ou no do Olívio, ou no do Fritsch, ou no do Agnelo, ninguém iria nem perceber. E eles
(os órgãos, que fique bem claro) não
fariam a menor falta. Mas no Itamaraty e na Polícia Federal?!
Com esse pano de fundo, fica até
engraçado o Brasil se arvorar líder
mundial e defender com tanto afinco
uma vaga permanente no Conselho
de Segurança da ONU. Ah!, por falar
nisso, a dívida com a própria ONU já
está lá pelos R$ 300 milhões. Se a organização der uma de CEB, acaba
apagando o Brasil.
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