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CARLOS HEITOR CONY
A ovelha e o lobo
RIO DE JANEIRO - Perto de fechar o primeiro ano no poder, o presidente
da República ainda não superou a
sua condição de bom candidato. Ao
contrário daqueles frades espanhóis
dos romances de cavalaria, dos quais
se esperam as piores coisas, de Lula a
gente sempre esperava as melhores
coisas.
Se, de um lado, louva-se a sua atuação no exterior, onde vende uma
imagem nova do Brasil, de outro, no
plano doméstico, lamenta-se que não
esteja conseguindo de seu partido e
das forças que o apoiaram uma coerência mínima com a aura de salvador da lavoura que criaram para ele
e que ele próprio deixou ser criada.
Lula está exagerando na superexposição de sua barba, de seu passado
de operário, que já parece menor do
que a de sua militância de político
profissional, que passou a ser desde
que criou um partido do qual se tornou régua e compasso.
A atual viagem aos países árabes,
por exemplo, é mais um pretexto para ficar fora dos problemas nacionais
do que a procura de soluções para os
problemas internacionais, que ninguém pediu a Lula para resolver. Devemos elogiar seus discursos em que
recomenda maiores investimentos do
capital árabe no Brasil, dizendo mais
ou menos o óbvio, que podemos ser a
porta de entrada para o mercado na
América Latina, tradicional cliente
da produção ocidental vinda dos Estados Unidos ou da Europa.
É pouco para justificar os gastos
com suas comitivas, sua extensa
agenda de banquetes e brindes, nos
quais geralmente não costuma se sair
bem.
O PT vive sua pior crise de identidade agora que está no poder, dividindo-o com petistas de undécima
hora e tradicionais adversários, que
se mostram surpreendidos com a
ovelha que parecia vestir pele de lobo.
O FMI e parte do empresariado nacional, que temiam um PT fundamentalista, reconhecem que estavam
enganados. Daí a pergunta que se deve fazer: a quem Lula realmente quis
enganar?
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