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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Um projeto exemplar
para o Brasil
Toda vez que o IBGE publica algum número sobre educação, recebo um telefonema da minha amiga
Joaninha, velha companheira de escola, dos bons tempos de ginásio.
Desta vez, seus comentários foram
sobre os dados de educação publicados pelo IBGE na última quarta-feira.
Os números que mais a chocaram foram os do analfabetismo. Depois de
lecionar por mais de 40 anos, a Joaninha está inconformada com o fato de
o Brasil ter hoje -em pleno século
21- 24 milhões de pessoas não-alfabetizadas.
Ponderei que a situação melhorou,
pois a mesma publicação dá conta de
que quase 100% das nossas crianças
estão na escola. Foi um avanço. O próprio analfabetismo baixou muito em
termos relativos. Nos tempos em que
a Joaninha lecionava, a taxa era superior a 25% da população escolarizável.
Hoje é a metade disso.
Mas a Joaninha não liga para percentuais. Vai sempre pelos números
absolutos. E não aceita o fato de termos mais analfabetos hoje do que no
seu tempo de professora: 24 milhões!
De fato, é muita coisa para um país
que precisa crescer competindo com
leões e tigres que não nos dão trégua e
inovam a cada dia, não só na produção, como também nos serviços e na
comercialização. É graças à boa educação que países da Europa do leste e
da Ásia vêm atraindo empresas e empregos.
Usando os dados que leu nos jornais, a amiga contra-argumentou, dizendo que, na faixa de 4 a 7 anos, ainda há 31% das crianças fora da escola.
Ou seja, a entrada é tardia e a saída é
precoce. Sim, porque, na mesma linha, ela lembrou que a proporção dos
que se diplomam no ensino fundamental ainda é irrisória, e a qualidade
do ensino proporcionada é lamentável, pois muitos são os adolescentes
que, depois de oito anos de escola, não
conseguem entender o que leram e
muito menos fazer as quatro operações aritméticas com desenvoltura.
Quando se adentra no terreno da
qualidade, a Joaninha tem razão. Mas
nada está perdido. O programa Alfabetização Solidária, por exemplo, conseguiu resultados espetaculares com
crianças, adolescentes e adultos dos
municípios mais pobres do Brasil. E
em pouco tempo.
Nele juntaram-se duas qualidades
importantes para qualquer programa
social: denodo e simplicidade. Isso vale mais do que burocracia e propaganda. Em apenas seis anos (1997 a 2003),
foram atendidos 4 milhões de brasileiros, em 2.010 municípios, com a ajuda
de 135 parceiros e de 219 instituições
de ensino -tudo feito sem alarde e
sem marketing.
Os reflexos da alfabetização foram
muito além do âmbito educacional. É
claro, pois a pessoa educada tem mais
saúde e mais visão e cria melhor os filhos. Segundo os dados do próprio
programa, 99% dos municípios atingidos registraram uma substancial
melhoria na qualidade de vida da população.
A Joaninha estava a par de tudo isso.
Sempre gostou de coisas simples e que
valorizam o contato direto entre professores e alunos. Isso é essencial. O
resto é propaganda. Por essa razão,
compartilho sua opinião: o Brasil deveria continuar nessa linha de eficiência e austeridade em lugar de inventar
novidades que cativam a mídia e encantam os demagogos, mas, infelizmente, desolam os cidadãos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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