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ELIANE CANTANHÊDE
O vai-não-vai de Serra
BRASÍLIA - Toda vez que leio José Serra dizendo que não vai ser candidato à Prefeitura de São Paulo, fico
com a impressão oposta: a de que ele
vai acabar sendo.
Políticos dizem uma coisa, mas
muitas vezes são obrigados a fazer
outra. Às vezes, até querem. Serra
também dizia que não sairia do Ministério do Planejamento para se
lançar à prefeitura paulistana no primeiro governo FHC, mas não teve
jeito. Foi e, aliás, perdeu. As circunstâncias políticas e partidárias o empurram para novo embate eleitoral.
Do ponto de vista dos tucanos -ou
melhor, de tucanos e pefelistas-, é
importante ter um candidato de peso
para enfrentar Marta Suplicy. Afinal,
São Paulo é São Paulo, o agora partido do presidente é forte ali e Marta
disputa com a vantagem da reeleição. Não pode ser só um passeio.
Mais importante ainda é o interesse
direto dos presidenciáveis FHC, Alckmin e Aécio. Todos, especialmente os
dois primeiros, precisam de um candidato de peso em Sampa. De quebra,
eis uma boa maneira de segurar Serra. Se ele perder, terá acumulado
mais uma derrota -e no seu próprio
território. Se ganhar, estará engessado no município, toureando buracos,
enchentes, violência e falta de grana.
Ou seja: a candidatura Serra interessa a todo mundo, menos ao PT.
Por precisão: interessa ao PT na proporção inversa que ao PSDB. Uma
reeleição já é um trunfo e tanto e,
além disso, Marta aderiu à escola
eleitoral paulista e paulistana de
muitas obras, muito concreto, muito
a ser fotografado em campanhas. O
sonho é ganhar em primeiro turno.
Contra Serra, vai ser difícil.
Quanto ao próprio Serra: ele anda
almoçando com Aécio, viajando ao
Nordeste, tentando acertar a rotina
de presidente nacional do PSDB. Mas
é difícil crer que esse seja um investimento melhor do que uma disputa
com Marta em São Paulo.
Se quiser entrar só para ganhar, é
melhor Serra nem botar o pé no palanque. Se pensar em visibilidade,
discurso e liderança, mesmo sob o risco da derrota, já está dentro.
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