|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O dólar, o euro e o Brasil
O euro está numa rota de valorização meteórica. Nos últimos
dois anos, a moeda européia valorizou-se cerca de 40% em relação ao dólar, tendo chegado a quase US$ 1,30.
Há analistas que consideram essa
supervalorização apenas uma "bolha", prevendo um recuo do euro para
um valor médio de US$ 1,06 em 2005.
Em contrapartida, há os que consideram o valor atual um reflexo de uma
política orgulhosa do Banco Central
Europeu que pode levar o euro a valer
US$ 1,40.
Quais as conseqüências de um euro
caro para a economia mundial e para
o Brasil?
Os produtores que exportam para a
União Européia estão gostando, pois
recebem cerca de R$ 3,60 por 1. Os
que viajam para a Europa estão detestando, pois têm de desembolsar R$
3,60 para comprar 1.
Mas o Brasil não está isolado. A economia mundial sofre impactos positivos e negativos provenientes de um
euro alto. O que sobrará para o Brasil
nesse processo?
Do lado positivo, o euro sobrevalorizado tornou os bens europeus muito caros e os americanos muito baratos. Isso desestimula as importações
da Europa para os Estados Unidos e
estimula a entrada de capitais externos naquele país -todos eles em busca de propriedades, empresas, ações e
títulos, que se tornaram baratos para
os europeus. Os Estados Unidos usam
a apreciação do euro para financiar o
seu enorme déficit público, acelerando a recuperação americana.
Do lado negativo, o euro alto está
causando sérios danos às exportações
da União Européia, cuja economia
(que tem crescido muito menos do
que a americana) poderá entrar em
estagnação prolongada se nada mudar. Nós, brasileiros, sentimos na carne a enxurrada de importações e viagens desnecessárias e a enorme dificuldade de exportar durante um longo período de sobrevalorização do
real, que começou com US$ 1 valendo
R$ 0,87 em 1994 e estabilizou em R$
1,21 até janeiro de 1999. O país paga
até hoje os erros daquela política.
Moedas apreciadas ou depreciadas
em excesso não são úteis para ninguém. No caso, o atual desequilíbrio
entre euro e dólar trará malefícios a
médio prazo, inclusive para o Brasil.
O ideal é ter um forte fluxo de comércio entre Estados Unidos e União Européia para que os países usem, no limite, a sua capacidade de vender e de
comprar.
É uma ilusão para o Brasil torcer indefinidamente por um euro nas nuvens. Isso levará recessão à União Européia, que é um dos principais mercados compradores dos bens e serviços do Brasil. Ademais, estamos longe
das condições dos Estados Unidos,
que, apesar de uma taxa de juros baixíssima, atrai capitais europeus para o
setor produtivo que gera empregos.
Nós, no Brasil, precisamos de um
equilíbrio entre as duas moedas para
que Estados Unidos e União Européia
importem o mais possível os bens e
serviços brasileiros, o que ajudaria a
gerar os nossos próprios empregos.
Além disso, temos de trabalhar duro
para consolidar os fundamentos da
economia e as condutas efetivas do
governo para que o Brasil possa atrair
capitais produtivos das duas maiores
economias do mundo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Maioria para nada Próximo Texto: Frases
Índice
|