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QUE METAS?
Não seria exagero dizer que o
ano, do ponto de vista do crescimento da economia, já pode ser dado como perdido. Tudo indica que o
comportamento do PIB em 2003 não
vá ser muito diferente da previsão feita pelo Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento, que projeta
uma expansão de 1,6%. Pelo terceiro
ano consecutivo o país estará crescendo a taxas que praticamente coincidem com as do incremento populacional.
O que se constata, portanto, é a
persistência de um quadro que se
agravou com a crise cambial de 1999,
quando, às voltas com a vulnerabilidade externa e um surto inflacionário, a equipe econômica tratou de puxar o freio da economia com contínuas elevações da taxa de juros e dos
superávits primários. A disparada do
dólar no recente período eleitoral novamente irradiou-se nos preços, ao
mesmo tempo em que cresciam as
desconfianças do mercado internacional sobre a capacidade de o país
saldar seus compromissos.
Para enfrentar a situação, o governo recém-empossado optou pelo
que parecia sensato, ou seja, fazer
"mais do mesmo". Em busca de um
"choque de credibilidade", as novas
autoridades econômicas mostraram-se ainda mais conservadoras.
O que a muitos pareceu uma política de emergência, anterior a uma
mudança de rumos, está se revelando uma opção de longo prazo. Nada
indica que a nova gestão irá reformular os fundamentos da política macroeconômica que vinha sendo praticada pela administração anterior.
Tudo deverá se resumir, no máximo,
a uma questão de grau ou de maior
ou menor propensão do governo a
apostar em políticas microeconômicas e ações sociais compensatórias.
A questão de grau, atualmente debatida em círculos governamentais,
está na flexibilização ou não da meta
de inflação para 2004 e 2005. Sabe-se
que dificilmente o Banco Central
conseguirá atingir a meta deste ano
(8,5%), o que sugere sérias dificuldades para cumprir a que foi fixada para o ano que vem (5,5%).
Mesmo que não alcance a meta para 2003, o BC deverá demonstrar ao
mercado, no final do ano, que se empenhou o máximo possível para fazê-lo. Terá, ao que tudo indica, de
manter os juros em patamares elevados, gerando um ambiente recessivo
para "matar e esquartejar" a inflação.
Caso queira, no entanto, em 2004,
obter mais espaço para reduzir a taxa
básica de juros, evitando aprofundar
ainda mais o desemprego e a asfixia
da atividade econômica, com suas
sérias sequelas sociais, será conveniente aumentar a meta de inflação.
Corre o risco, porém, de que tal mudança seja interpretada como um sinal de descompromisso com os objetivos de austeridade e de rigor no
controle dos aumentos de preços.
A revisão de metas já foi feita na
gestão anterior, quando o então presidente do BC, Armínio Fraga, considerou que o país não deveria pagar
custos elevadíssimos para perseguir
um índice de inflação que se revelava
inatingível nos prazos fixados.
Por decreto em vigor, o Conselho
Monetário deve indicar a meta para
2005 até o dia 30 deste mês, podendo
rever o objetivo para 2004. A decisão
dirá alguma coisa a mais sobre o tipo
de política que o novo governo pretende seguir nos próximos anos.
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