|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UNIVERSIDADE E JUSTIÇA
Pelo critério da justiça social,
não há dúvidas de que os mais
ricos deveriam pagar para frequentar
as universidades públicas. Existe
uma distorção de origem. No ensino
médio, estudantes pobres se formam na rede oficial, gratuita, que
ministra um curso, em geral, de pior
qualidade do que aquele oferecido
pelas caras escolas particulares. No
ensino superior, a situação se inverte. As melhores escolas tendem a ser
as públicas. Só que o aluno formado
na rede oficial tem maiores dificuldades do que os estudantes de colégios
privados para conquistar uma vaga
nas universidades públicas. Se esse
aluno mais pobre quiser obter formação superior, são grandes as
chances de que tenha de arcar com
os custos de um curso privado e de
qualidade por vezes inferior.
Diante desse quadro, faz sentido
pelo menos moral a proposta, agora
encampada pelo Ministério da Educação, de exigir algum tipo de compensação financeira dos alunos de
universidades públicas que tenham
condições de pagar.
É claro que há muitas formas de cobrar. Podem-se exigir mensalidades
diretas de quem pode pagá-las ou cobrar, via fisco, do aluno que não dispuser dessa condição depois que ele
estiver formado, profissionalmente
estabelecido e faturando. Outra idéia
interessante é a de exigir dos formandos em universidades públicas que
prestem um ano de serviço ao Estado. É a mais republicana das propostas e que ainda traz a vantagem de
enriquecer a vida profissional do jovem. O debate sobre a contribuição
dos mais ricos à universidade é oportuno. Mas é preciso ampliá-lo para
além da questão dos pagamentos.
Antes de mais nada, é bom que fique claro que a cobrança de algum tipo de mensalidade cobriria apenas
pequena parte dos custos de uma
boa universidade pública. Diferentemente do que muitos imaginam, não
são apenas alunos de famílias ricas
que frequentam as instituições oficiais. Na verdade, eles são até minoria. Pesquisa realizada no ano 2000
com alunos de federais que prestaram o "provão" mostrou que apenas
5,7% dos universitários tinha renda
familiar mensal superior a R$ 7.550;
os rendimentos das famílias da grande maioria deles (71,2%) não ultrapassavam os R$ 3.000 mensais.
No mais, as universidades de elite
-aquelas capazes não apenas de ensinar mas também de produzir saber- dependem, em qualquer lugar
do mundo, de generosas verbas públicas, que são aplicadas a fundo perdido. Ninguém senão o Estado tem
condições de investir, por exemplo,
bilhões de dólares num acelerador
de partículas que trará pouco ou nenhum retorno financeiro. A mesma
lógica se aplica a um curso como o
de sânscrito, que só pode existir numa universidade pública.
Na verdade, a escolha que se coloca
diante do país é entre produzir ciência e renunciar a fazê-lo, contentando-se em consumir tecnologias e
idéias importadas. E, para gerar saber, é preciso gastar, isto é, investir
em pesquisa e formação de quadros.
Em última instância, quem sairá ganhando será o país.
Texto Anterior: Editoriais: QUE METAS? Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O PT e a bicicleta ergométrica Índice
|