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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A Embraer abrindo o caminho!
No artigo anterior (1º/12), examinamos a grande potencialidade que a China representa para as vendas brasileiras. Coincidentemente, a
Embraer assinou nesta semana com a
empresa estatal da China (Avic-II) um
contrato comercial estratégico que
prevê, ao longo de dez anos, a produção, em território chinês, de cerca de
300 aviões brasileiros, cujos componentes, em sua maioria, irão do Brasil
para lá -o que gerará empregos aqui.
É claro que a China também tem
seus problemas, especialmente na
área política. Mas eles deverão ser resolvidos com base na paciência chinesa e na sabedoria oriental.
O país trocou de presidente e de
concepção há três semanas. Hu Jintao,
de 59 anos, um homem da quarta geração do Partido Comunista Chinês
-depois de Mao Tsé-tung, Deng
Xiaoping e Jiang Zemin (que se aposentou aos 76 anos)-, assumiu o comando promovendo a entrada de empresários privados (outrora inimigos
do partido) nos órgãos decisórios do
governo. É o começo de um novo
tempo.
Um tempo promissor e difícil, cheio
de problemas. A curto prazo, a China
terá de enfrentar o problema da fragilidade do seu sistema bancário. É um
enorme desafio. Estimativas recentes
indicam que os bancos terão de arrumar cerca de US$ 500 bilhões para tapar os buracos deixados por maus
empresários.
Concomitantemente, a China terá
de modernizar as empresas estatais
que continuam atrasadas em termos
de tecnologia e de produtividade. Cerca de 50% da produção industrial é garantida pelas empresas ditas privadas,
que são mais eficientes e que respondem pela maior parte das exportações. As estatais, retrógradas em sua
maioria, produzem pouco e são subsidiadas pelo Estado, mas garantem a
maior parte dos empregos, também
subsidiados.
Assim como os desafios econômicos, os problemas sociais são enormes. Um deles é a pressão dos que vivem no campo e querem ir para as cidades. Para contê-los, o governo aumentou o custo do "visto da migração
interna", mas, ainda assim, milhões de
chineses desejam ir para as cidades,
onde não há empregos para todos.
Tudo isso cria incertezas para o futuro. Ao mesmo tempo, esses problemas geram oportunidades de negócio.
O caso da Embraer é típico. Para acelerar a produção interna com mais eficiência, o governo decidiu abrir as
portas à empresa brasileira. O mesmo
pode ocorrer ao longo do processo de
modernização de outros setores da
economia chinesa.
Com 1,3 bilhão de pessoas e pobre
em recursos naturais, o país é um
"mercadão" para o Brasil. Se os problemas são grandes, é preciso considerar que a economia chinesa também é
grande (e pujante) e, por muitas décadas, usará as vantagens comparativas
da educação de boa qualidade e do
trabalho de custo baixo para produzir
e para exportar.
No Brasil, teremos a promover as
mudanças que reduzam (ou eliminem) as nossas desvantagens comparativas -excesso de tributos, de juros
e de encargos trabalhistas. Com isso, o
crescimento da China liderará uma
nova era de produção, de exportações
e de empregos para o Brasil.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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