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VÔO DE GALINHA
A recente melhora nos indicadores de risco, em especial o
novo humor nos mercados financeiros em relação ao Brasil, é mais uma
bolha especulativa.
O governo Lula também nisso repete a coreografia do governo FHC.
Apressa-se a comemorar uma suposta melhoria estrutural na economia, apresentando-a como resultado
do acerto da política econômica.
Esses períodos de alívio conjuntural foram certa vez batizados pelo
economista Luiz Carlos Mendonça
de Barros de "vôos de galinha". A
economia parece que vai decolar,
mas não tem como sustentar-se.
O contexto internacional piorou
muito, os riscos de alta da inflação
no Brasil continuam presentes, há
gargalos estruturais na capacidade
produtiva e grandes empresas em setores estratégicos, como eletricidade, estão inadimplentes.
Nada garante uma retomada do
crescimento no curto ou no médio
prazo. O principal instrumento da
política econômica, o regime de metas inflacionárias, está sob suspeita.
Mas o humor dos mercados melhorou. Aumentou a procura por ativos de países percebidos pela comunidade financeira internacional como arriscados. Houve uma valorização de papéis da dívida brasileira.
O risco-país chegou a pouco mais
de 1.100 pontos na semana passada e
o dólar voltou ao patamar de R$ 3,50.
Alguns bancos voltaram a captar recursos no exterior. E o saldo da balança comercial brasileira, principal
fonte de divisas para o país, vem crescendo. Pode aumentar ainda mais se
o cenário na Argentina melhorar.
A questão crucial é saber se está em
curso uma real melhora nas perspectivas da economia brasileira ou se,
como já se viu tantas vezes desde a
crise asiática, trata-se apenas de um
respiro, um momento em que ganha
força nos mercados financeiros a hipótese de que "o pior já passou".
Mais que interpretações psicológicas para o comportamento dos investidores, no entanto, a melhoria
observada parece refletir principalmente o aumento na diferença entre
juros internos e externos.
Num momento em que o Brasil gera saldos comerciais e faz um forte
aperto fiscal, o investidor e os bancos
ficam relativamente mais dispostos a
apostar em operações de curto prazo
cujos ganhos resultam da diferença
entre taxas de juros.
Daí a crer que a política econômica
brasileira inspire uma confiança no
longo prazo ou que o país esteja
pronto para retomar o crescimento
há uma grande distância.
A lógica financeira mais uma vez
submeteu o Estado brasileiro a uma
ciranda de curto prazo cujos ganhos
são insustentáveis no longo prazo.
Há um limite para subir os juros, cortar gastos e aumentar impostos. Enquanto esse limite parece contornável, a gincana prossegue.
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