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CRISE DE LIDERANÇA
A história mostra que os
grandes impérios não caem da
noite para o dia. No entanto uma das
indicações de que se encontram em
crise é a perda da capacidade de convencer seus aliados e as elites locais a
eles subordinadas de que utilizam
seu poder para garantir a prosperidade e a estabilidade.
A força garante aos impérios a supremacia, mas somente o reconhecimento de suas virtudes pode proporcionar-lhes o que alguns historiadores chamam de "hegemonia benigna" -que não deixa de provocar resistências localizadas, mas garante o
apoio da maioria, inclusive pela adesão a seu modelo de cultura e de
comportamento.
Durante quase 40 anos após a Segunda Guerra Mundial, quando se
firmou seu poderio, os Estados Unidos exerceram esse tipo de hegemonia. Nunca abdicaram do uso da força -com as numerosas intervenções na América Latina, na Ásia e na
África, no contexto da Guerra Fria-,
mas zelaram pela prosperidade de
seus aliados estratégicos, a Europa e
o Japão, e, também no plano econômico, concederam razoável autonomia a países menos desenvolvidos
que giravam em sua órbita. Fora do
comunismo, quase toda heterodoxia
era permitida.
A criação da ONU e de instrumentos regionais de decisão coletiva, como a Otan (Organização do Tratado
do Atlântico Norte) e a OEA (Organização dos Estados Americanos), teve
o firme incentivo norte-americano.
Nelas, de uma forma ou de outra, os
EUA acabavam por impor seus desígnios, mas valia a idéia de que a
opinião dos demais era ouvida.
Acima de tudo, prevalecia a noção
de que o modelo norte-americano de
desenvolvimento econômico e organização política, capaz de promover
prosperidade inigualável, era um
exemplo a ser seguido.
Mesmo nos anos 90, quando os Estados Unidos se tornaram a única superpotência, seus governos preservaram certo multilateralismo. George
Bush pai prometeu uma "nova ordem" baseada em ideais comuns de
democracia, cooperação e livre mercado. Bill Clinton aderiu ao Protocolo de Kyoto e ao Tribunal Penal Internacional, embora a política de abertura financeira promovida por seu
governo nas instituições internacionais de crédito tenha semeado a turbulência em que se encontram vários
países, principalmente na América
Latina.
George W. Bush rompeu com tudo
isso, levando ao pé da letra o lema
"América primeiro". A arrogância se
tornou um traço comum a quase todas as autoridades de seu governo.
Depois do 11 de Setembro, a doutrina
dos ataques preventivos a supostos
Estados terroristas minou as instituições multilaterais que os próprios
norte-americanos haviam construído. E, o que parece fatal para um império, sua política de manutenção da
ordem internacional pode provocar
o aumento da desordem, consequência prevista por muitos analistas do possível ataque ao Iraque.
Seria com certeza precoce demais
afirmar que o império norte-americano está em decadência, mas sua
dependência excessiva da força, o
confronto com alguns dos principais
aliados europeus e a onda de antiamericanismo que se alastra pelo
mundo mostram que Bush levou seu
país a uma crise de liderança.
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