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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Agricultura com modernização e novas áreas
Os dados do último censo revelam que as grandes cidades do
Brasil já não têm mais condições de
abrigar novos habitantes, razão pela
qual eles estão se dirigindo às cidades
de médio porte -entre 100 mil e 500
mil habitantes. Na década de 90, enquanto as capitais dos Estados receberam 5,3 milhões de pessoas, os municípios do interior acolheram 17,6 milhões.
São Paulo foi recordista. Ao longo
dos anos 90, o interior ganhou cerca
de 4,6 milhões de habitantes, enquanto a sua capital recebeu 788 mil novos
moradores. Os municípios médios
cresceram 3,1% ao ano -bem acima
do crescimento do Estado de São Paulo (2,1%) e do Brasil (1,7%). A nova demografia mostra o esvaziamento do
campo e o inchaço do interior.
Não é essa a tendência dos países desenvolvidos? De fato, os Estados Unidos e as nações da União Européia iniciaram uma reversão das metrópoles
para o interior já no início dos anos 70.
Ali surgiram localidades que ofereciam uma melhor qualidade de vida.
Apesar de as atividades agropecuárias
liberarem enormes contingentes de
mão-de-obra por força da entrada de
novas tecnologias, as pequenas e médias cidades tiveram um saudável desenvolvimento dos setores de serviços, comércio e até mesmo da indústria, que, por razões ecológicas, saíram
das metrópoles.
No Brasil, o fenômeno é diferente.
As médias cidades estão recebendo
uma população que está muito acima
da capacidade que essas cidades têm
de criar a infra-estrutura material e social que possa abrigá-la dignamente.
O Brasil foi atacado pela febre de
criação de municípios. Só na década
de 90 foram implantados 1.070 novos
municípios, que, no total, fizeram o
Brasil saltar de 4.491 para 5.561.
Pura ação política. A maior parte
desses municípios tem população de
até 5.000 habitantes e não possui a menor capacidade arrecadatória, pois, na
sua economia, não surgiram as atividades que pudessem gerar emprego,
renda e receita pública. São prefeituras que, com raras exceções, se tornaram totalmente dependentes de repasses de recursos estaduais e federais
e que mais criaram do que resolveram
problemas.
Nessas condições, os pequenos municípios se transformaram em corredor de passagem em direção às médias cidades para uma população que,
sendo expulsa do campo, precisa trabalhar em outros locais.
As cidades médias viraram "sanduíches" de problemas, engrossando ainda mais as mazelas do crime, da violência e da deterioração social das
grandes cidades.
O ataque a essa questão é urgente. O
Brasil precisa continuar com os investimentos em tecnologia agrícola (o
que libera mão-de-obra), mas pode,
simultaneamente, explorar novas
áreas agrícolas para acomodar famílias que trabalham de forma simples,
mas que geram empregos e alimentam seus filhos.
A solução dos graves problemas urbanos demanda menos politicagem
para criar municípios e mais atenção
às políticas de desenvolvimento regional.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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