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CARLOS HEITOR CONY
O sonho pode acabar
RIO DE JANEIRO - Se é verdade que, no Brasil, o ano só começa após o
Carnaval, amanhã também deverá
começar o governo Lula e, de quebra,
no setor internacional, talvez comece
uma guerra.
Não estou associando o novo governo à possibilidade de um novo conflito, que começará localizado, mas poderá se estender no tempo e no espaço, criando uma situação difícil, senão trágica, para as esperanças que
depositamos em nós mesmos e também no Lula cheio de graça -que o
Senhor esteja com ele.
Durante a campanha eleitoral, eu
ficava admirado ao ver que os candidatos presidenciais falavam sobre
uma coisa que não existia. Além das
generalidades de praxe, mais comida, mais emprego, mais saúde, mais
isso e aquilo, eles acreditavam sinceramente que bastaria a vontade política deles e de suas equipes para resolver os problemas da nação.
Dois meses antes das eleições, escrevi uma crônica lembrando que a
agenda econômica, política e social
do futuro presidente, fosse qual fosse
o eleito, já estava fechada até março
do ano que vem. Não apenas na
questão do Orçamento, mas de todos
os diversos compromissos marcados
pelo governo anterior.
Pagamentos que se arrastam há
anos, pendências judiciárias, mundos e fundos a quantificar, conferências de saúde, trabalho e ambiente,
isso sem contar os compromissos de
emergência, falecimentos de chefes de
Estado, calamidades, enfim, a agenda de um presidente, em seu primeiro
ano de governo, nada mais é do que
um roteiro pré-fabricado que ele terá
de cumprir.
Tudo isso estourou nas mãos de Lula, de quem se esperava um governo
diferente. Como os demais candidatos, Lula garantia que não tinha
compromissos a não ser com o povo.
Não é bem assim. Um candidato
pode não ter compromissos com ninguém, mas um presidente da República tem compromissos com Deus e
com o Diabo -e, geralmente, mais
com o Diabo.
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