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ELIANE CANTANHÊDE
Zero a zero
BRASÍLIA - Enquanto o Fome Zero cai na boca do povo, o Analfabetismo
Zero cai discretamente nas graças do
empresariado, do capital.
No governo, já há quem aposte que,
até junho, esse segundo programa petista já tenha mais investimentos e
esteja mais bem estruturado do que o
Fome Zero -que, lembre-se, seria a
menina dos olhos de Lula.
Apesar da essência assistencialista,
continuo na contramão, defendendo
o Fome Zero pela sua simbologia
num país como o Brasil e num governo como o de Lula. Mas a gestão do
programa é indefensável.
Desde antes da posse, José Graziano
se debate angustiadamente sem sair
do lugar, como banhista em redemoinho, enquanto empresários, banqueiros, consultores e "ongueiros" fazem fila no Ministério da Educação,
informando-se sobre o Analfabetismo Zero e, claro, oferecendo préstimos e recursos.
Graziano tem sido uma espécie de
pé-frio no governo desde que Lula,
em seu primeiro pronunciamento
formal depois de eleito, anunciou o
Fome Zero como o principal programa de seu governo e o maior sonho
do menino pobre que atravessou o
país num pau-de-arara para tentar a
vida no "Sul maravilha".
O programa, que todos imaginavam já pronto, detalhado e com equipe definida, não era nada disso. Enveredou por fórmulas atrasadas, mereceu críticas dos maiores experts,
continua sem recursos claros e sem
equipe consolidada. Ninguém sabe
para onde envia contribuições em
alimentos ou em dinheiro. E Graziano ainda piora tudo falando besteira,
como aquela coisa dos nordestinos.
Nem é bom lembrar.
Enquanto isso, segue seu rumo o
Analfabetismo Zero, com menos apelo propagandístico, mas com mais
consistência e mais poder de inclusão
social. Mais consequente, portanto. E
com tudo para engolir o outro.
Os empresários, ou financiadores,
já perceberam. Lula e seus marqueteiros logo vão perceber também. E
assim emagrecer de vez o Fome Zero,
bela bandeira, péssima execução.
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