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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Zero a zero

BRASÍLIA - Enquanto o Fome Zero cai na boca do povo, o Analfabetismo Zero cai discretamente nas graças do empresariado, do capital.
No governo, já há quem aposte que, até junho, esse segundo programa petista já tenha mais investimentos e esteja mais bem estruturado do que o Fome Zero -que, lembre-se, seria a menina dos olhos de Lula.
Apesar da essência assistencialista, continuo na contramão, defendendo o Fome Zero pela sua simbologia num país como o Brasil e num governo como o de Lula. Mas a gestão do programa é indefensável.
Desde antes da posse, José Graziano se debate angustiadamente sem sair do lugar, como banhista em redemoinho, enquanto empresários, banqueiros, consultores e "ongueiros" fazem fila no Ministério da Educação, informando-se sobre o Analfabetismo Zero e, claro, oferecendo préstimos e recursos.
Graziano tem sido uma espécie de pé-frio no governo desde que Lula, em seu primeiro pronunciamento formal depois de eleito, anunciou o Fome Zero como o principal programa de seu governo e o maior sonho do menino pobre que atravessou o país num pau-de-arara para tentar a vida no "Sul maravilha".
O programa, que todos imaginavam já pronto, detalhado e com equipe definida, não era nada disso. Enveredou por fórmulas atrasadas, mereceu críticas dos maiores experts, continua sem recursos claros e sem equipe consolidada. Ninguém sabe para onde envia contribuições em alimentos ou em dinheiro. E Graziano ainda piora tudo falando besteira, como aquela coisa dos nordestinos. Nem é bom lembrar.
Enquanto isso, segue seu rumo o Analfabetismo Zero, com menos apelo propagandístico, mas com mais consistência e mais poder de inclusão social. Mais consequente, portanto. E com tudo para engolir o outro.
Os empresários, ou financiadores, já perceberam. Lula e seus marqueteiros logo vão perceber também. E assim emagrecer de vez o Fome Zero, bela bandeira, péssima execução.


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