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SEM PROJETO
Pressionado por inúmeras carências e às voltas com recorrentes crises, o Brasil tem sido, em
muitos casos, administrado ao sabor
das imposições de curto prazo. Se
nos primeiros anos do presidente
Fernando Henrique Cardoso divisava-se um projeto de consolidação da
democracia e de liberalização econômica, em seu segundo mandato esse
sentido de futuro naufragou no tumultuoso cotidiano político e econômico do país. Cada vez mais refém
do fisiologismo e dos programas de
gestão econômica delineados pelo
FMI (que, afinal, salvara o país do
pior), o governo FHC chegou ao ocaso com resultados sofríveis.
Sendo assim, seria natural que ganhasse ímpeto na sociedade brasileira o desejo de mudança. Um país
cansado de tantas frustrações e premido pelo desemprego decidiu levar
Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio
do Planalto. A eleição do líder petista,
com suas renovadas promessas de
respeito aos contratos, parecia anunciar o início de uma nova era.
Ao renunciar ao esquerdismo econômico, Lula trataria de implementar políticas desenvolvimentistas e o
PT teria a oportunidade, uma vez no
governo, de adotar os projetos sociais que parecia possuir na oposição. Todas as aparências indicavam
que o Brasil estava prestes a ganhar
um novo projeto nacional.
Passados, porém, já 16 meses desde a posse de Lula, não são apenas os
resultados que se apresentam escassos. O que está cada vez mais patente
é que o PT não tinha, na realidade,
um projeto de governo. Não o tinha
em sentido amplo e tampouco em
áreas específicas. Nada que se possa
chamar assim foi apresentado para
nortear as ações em frentes tão cruciais como as da saúde e da educação. Quem poderia imaginar que tão
aguerridos oponentes de seguidos
governos não tivessem já organizado, debatido e esmiuçado os planos
para transformar o país?
Alguma diretriz, é verdade, pode
ser identificada na política externa,
embora não propriamente nova. E é
fato que, na economia, o governo
tem procurado adotar uma linha de
coerência, assumindo, porém, o
ideário da gestão anterior, simbolizado pela figura do ministro Pedro
Malan, o qual o PT vivia a bombardear.
Afora isso, o que se mostra como o
grande projeto petista não passa de
esforços para a preservação do poder. Ocupar a máquina pública, assenhorear-se de órgãos e estruturas
burocráticas, firmar compromissos
fisiológicos é o que de mais notável
se observa. Paralelamente a isso, flutua, quase sempre sem o amparo da
realidade, a retórica bombástica e
popularesca, na qual o presidente
Lula se especializou.
Seu principal aliado nesse terreno
são as ações de marketing, algumas
francamente bisonhas, como a doação de ambulâncias que, supostamente novas, eram já usadas, ou a
propaganda enganosa, com imagens falseadas, tirada às pressas do
ar depois de desmascarada.
Convenha-se que merecia mais um
país que se entregou tão decididamente à esperança de que algo imaginoso e produtivo fosse acontecer.
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