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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Nada como
o bom sensoNão é novidade que os alunos
desprotegidos têm mais dificuldade para entrar e permanecer nas
boas universidades. Nestas, o vestibular é rigoroso e as exigências são elevadas, o que favorece a entrada e permanência de estudantes mais bem preparados em detrimento dos demais, sejam eles negros, pardos, residentes das
periferias ou egressos de escolas públicas de nível médio.
Nesses casos, os fatores de discriminação se juntam à precariedade de
suas famílias e à má qualidade das escolas que freqüentaram, dando como
resultado final a referida dificuldade
para usufruir das boas faculdades. Isso é intolerável e exige mecanismos de
compensação.
A resposta mais apressada foi a criação de cotas. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, aprovou uma lei que
reserva 50% das vagas nas universidades estaduais para egressos da rede
pública de ensino médio. As universidades realizaram dois vestibulares:
um tradicional e mais difícil, destinado aos alunos em geral, e outro inovador e mais fácil, para atender à cota.
Os resultados foram desastrosos.
Entre os candidatos ao curso de odontologia, por exemplo, a menor nota
obtida no vestibular tradicional foi de
77,5 (em uma escala de zero a cem),
enquanto o último aprovado no vestibular da cota teve nota 6,25! Ou seja,
muitos alunos do primeiro grupo ficaram de fora apesar de estarem mais
bem preparados. Um escândalo!
O caso já chegou ao Supremo Tribunal Federal uma vez que a Carta Magna assegura igualdade de condições
para acesso à educação. Está aí. Ao
pretender proteger os desprotegidos,
o sistema de cotas excluiu os bons e
gerou uma imensidão de conflitos que
só tendem a aumentar.
O governo do Estado de São Paulo
resolveu seguir um outro caminho.
Em lugar de assegurar vagas para
quem está mal preparado, a Secretaria
da Educação criou cursinhos especiais
para melhorar a sua preparação e a
sua capacidade de concorrer nos vestibulares existentes. Trata-se de uma
ação que foi à raiz do problema. Se a
preparação foi fraca, vamos remediá-la e oferecer para esses alunos algo especial para compensar suas vulnerabilidades.
Rapidamente, o secretário da Educação de São Paulo, professor Gabriel
Chalita, organizou o programa Pró-Universitário, abrindo 5.000 vagas na
zona leste da capital com apoio dos estudantes da USP (que serão os professores) e se prepara para abrir mais de
12 mil vagas em outras cidades do Estado com o apoio de estudantes da
Unesp.
Muitos argumentarão, com maldade, que essa é uma confissão de que a
escola média do setor público é ineficiente. Ora, vamos deixar os sofismas
de lado e apoiar as ações que podem
resolver o problema. O aluno que tem
dificuldade de entrar em boas universidades precisa ser ajudado. A melhor
maneira é elevar o seu nível para competir. A iniciativa só merece aplauso. É
prática, útil e não cria novas discriminações. Nada como o bom senso.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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