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CLÓVIS ROSSI
A aura arranhada
NOVA YORK - Suspeito que o senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do
PFL, tenha acertado em cheio ao recomendar a Ciro Gomes que trate de
capturar votos na classe média, insatisfeita com o governo.
Pelo menos a julgar pela minha caixa de correspondência eletrônica, a
mudança de regras nos chamados
fundos DI provocou, de fato, enorme
revolta na classe média, a única que
tem dinheiro para investir nesse tipo
de instrumento, mas não tem o suficiente para pagar, ao mesmo tempo,
assessores que aconselhem o melhor
momento de entrar ou de sair de cada
tipo de aplicação.
A chiadeira foi forte e será ainda
mais ensurdecedora se se comprovar
que os grandes investidores saíram
antes da tungada, como vem afirmando o "Jornal do Brasil".
É sintomático que, pela primeira vez
desde que assumiu o posto, em 1999, o
presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, esteja sendo questionado do
ponto de vista técnico. Antes, as críticas eram ideológicas, ou por ele ser excessivamente liberal, ou por ser "a raposa tomando conta do galinheiro",
como se disse à época de sua nomeação.
Se alguém ainda se lembra, Fraga
saiu dos escritórios do megainvestidor
(ou megaespeculador) George Soros
em Nova York diretamente para o
Banco Central.
A crítica ideológica baixou muito de
volume, porque Armínio conseguiu
tourear a transição do dólar mais ou
menos fixo para o dólar flutuante sem
grandes dores.
Que agora a crítica ressurja, mas pelo lado da competência técnica, diz
muito sobre o mau humor de uma
parte do público.
Quebrar a aura de um importante
funcionário público, ainda por cima
muito identificado com a política econômica, tem sempre consequências
políticas, talvez eleitorais. Agora, Fraga terá de matar um leão por dia para
manter-se acima de qualquer suspeita.
P.S. - A viagem a Nova York se deve a convite do Council on Foreign Relations para participar de seminário
sobre o pós-11 de setembro.
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