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Editoriais
Flutuações ríspidas
Para o Brasil, uma súbita desinflação da "bolha das commodities" teria efeitos delicados, como risco de fuga de capitais
OS FOCOS que alimentam
o ambiente de alta incerteza na economia
mundial desde meados
do ano passado são dois: os desdobramentos da crise financeira
que tem como epicentro os Estados Unidos e como estopim o repique da inadimplência no crédito hipotecário; e o comportamento extremamente volátil dos
preços das mercadorias básicas,
as chamadas commodities.
Quanto ao primeiro fator, as
notícias não chegam a significar
superação da crise -haja vista os
enormes prejuízos anunciados
por duas das maiores companhias de garantia de crédito à casa própria dos EUA. Sugerem,
contudo, que o receio de uma debacle bancária, que chegou a ser
intenso no começo do ano, continua, lentamente, a se dissipar.
Mas o destaque do momento é
o recuo dos preços das commodities, que susta a violenta escalada iniciada no fim de 2007. A
evidência de que as economias
de EUA, Europa e Japão se
acham em franca desaceleração
indica uma menor demanda global por produtos primários.
Iniciativas de autoridades econômicas no mundo emergente
reforçam esse quadro. Com o fito
de combater a inflação, aumentam os juros e tomam outras medidas que visam a moderar o ritmo de crescimento econômico.
Tal ambiente estimula, ainda, a
desmontagem simultânea de
operações especulativas que sustentavam os preços de produtos
básicos em patamar elevado. Tudo somado, as cotações das commodities caem com força. O movimento atinge uma gama de
produtos, com destaque para o
petróleo. O preço do barril, que
há poucas semanas arranhava os
US$ 150, recuou rapidamente e
fechou ontem a US$ 115.
Se a alta do petróleo, dos metais e dos produtos agrícolas foi
essencial para agravar a carestia
em todo o mundo, uma acomodação das suas cotações seria
bem-vinda para o combate à inflação. Não há, porém, a menor
segurança quanto aos próximos
movimentos dos preços das
commodities. A violência das
flutuações recentes, para cima e
agora para baixo, dificulta bastante os prognósticos.
No entanto, como fica cada vez
mais nítido o cenário de letargia
econômica nos principais motores da economia mundial, os riscos maiores parecem se deslocar
para a direção da queda das commodities, que pode até aprofundar-se dramaticamente.
Para o Brasil, uma súbita desinflação da "bolha das commodities" traria implicações delicadas. A queda do superávit comercial tenderia a tornar-se abrupta,
pois a alta no faturamento com
as exportações ainda verificada
se deve exclusivamente ao aumento nos preços dos bens exportados. Na hipótese de essa cadeia de eventos elevar a aversão
global ao risco, a saída de dólares
do país seria intensificada.
Diante dessa ameaça, o fato de
o Banco Central hoje contabilizar US$ 200 bilhões em reservas
internacionais representa um
trunfo para amortecer a instabilidade. Já a oportunidade de dispor de um outro anteparo importante contra crises -a contenção de gastos correntes do governo e a elevação da poupança
fiscal- tem sido desperdiçada.
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