São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Editoriais

Flerte com a crise

AMANHÃ o eleitorado boliviano irá às urnas para decidir se quer manter o presidente Evo Morales e oito governadores no cargo, ou se prefere destituí-los. Se a mudança de regras que na última hora beneficiou a oposição vigorar, a expectativa é que a maioria sobreviva ao primeiro referendo revogatório da história do país.
A queda-de-braço que Morales trava com os líderes dos departamentos da rica meia-lua -Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni- sobre a autonomia dessas províncias dificilmente se resolverá na votação. As pesquisas sugerem ser pouco provável que qualquer um receba votação consagradora ou vexatória o bastante para resolver o impasse.
O cenário mais provável, portanto, é o de que continuem as fortes tensões políticas entre os dois campos -que nesta semana impediram Hugo Chávez e Cristina Kirchner de visitar a Bolívia e o próprio Morales de estar presente em algumas regiões majoritariamente oposicionistas.
Paradoxalmente, a situação econômica é de bonança para a Bolívia -o que ajuda a explicar a relativa popularidade tanto de Morales como dos governadores.
As finanças públicas, por conta do brutal aumento de impostos sobre o gás e minérios, se recuperaram. Entre 2005 e 2007, o gasto estatal passou de 34% do PIB para 42%, sem que isso significasse déficit nas contas.
O relativo conforto fiscal permite aos governantes gastar em programas de redução da pobreza e outras bondades. O problema é que essa situação não vai durar para sempre. A retórica chavista de Morales, associada ao impasse político entre o governo central e os departamentos, reduziu praticamente a zero os investimentos produtivos no país. Sem eles o crescimento anualizado de 6% aferido no primeiro trimestre deste ano dificilmente vai se sustentar.


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