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RUY CASTRO
A revolução de pijama
RIO DE JANEIRO - Um amigo leu
nesta coluna sobre a mania dos chineses de andar de pijama na rua durante o dia. Perguntou-me se há explicação para isso ou se é apenas
uma moda lançada por um fabricante e seguida cegamente pelas
grandes massas. Consultei minhas
fontes em Pequim -na verdade, o
garçom de um restaurante chinês
em Copacabana- e descobri que há
uma causa.
A maior concentração de homens
de pijama nas ruas da China se dá
no fim da tarde ou de manhã, pouco
antes do almoço. É um código não
verbal, em que o sujeito de pijama
está informando aos outros, de terno ou de macacão, com quem cruza
na calçada: "Sou um trabalhador
como você. Mas sou tão eficiente
que posso gozar de horas de folga ou
de um dia inteiro livre, como prova
o pijama que estou usando".
Ele quer dizer que, se for visto de
pijama no fim da tarde, é porque
completou seu turno mais cedo e
pôde ir para casa. E, de manhã, é
porque aquele é seu dia livre e remunerado, privilégio reservado a
poucos na China. Com isso, estará
livre da suspeita de sujeitar-se a trabalho escravo, como dizem ser a
norma no país.
A qualidade do pijama também
faz parte do código. Pijamas de algodão, estampados de listras ou bolinhas, indicam um operário. Mas
só os operários muito especializados, como os da indústria eletroeletrônica, têm certas regalias, donde
há poucos pijamas de algodão circulando. Já os pijamas de seda, que
custam até US$ 80 nos grandes magazines, indicam corretores imobiliários, funcionários do mercado financeiro ou aspones de luxo, que já os há em quantidade na China.
E atenção para a padronagem. Pijamas estampados de pandas estão
em baixa. O último grito são os que
combinam vermelho e amarelo e
vêm com imagens alusivas à defunta Revolução Cultural.
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