São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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RUY CASTRO

A revolução de pijama

RIO DE JANEIRO - Um amigo leu nesta coluna sobre a mania dos chineses de andar de pijama na rua durante o dia. Perguntou-me se há explicação para isso ou se é apenas uma moda lançada por um fabricante e seguida cegamente pelas grandes massas. Consultei minhas fontes em Pequim -na verdade, o garçom de um restaurante chinês em Copacabana- e descobri que há uma causa.
A maior concentração de homens de pijama nas ruas da China se dá no fim da tarde ou de manhã, pouco antes do almoço. É um código não verbal, em que o sujeito de pijama está informando aos outros, de terno ou de macacão, com quem cruza na calçada: "Sou um trabalhador como você. Mas sou tão eficiente que posso gozar de horas de folga ou de um dia inteiro livre, como prova o pijama que estou usando".
Ele quer dizer que, se for visto de pijama no fim da tarde, é porque completou seu turno mais cedo e pôde ir para casa. E, de manhã, é porque aquele é seu dia livre e remunerado, privilégio reservado a poucos na China. Com isso, estará livre da suspeita de sujeitar-se a trabalho escravo, como dizem ser a norma no país.
A qualidade do pijama também faz parte do código. Pijamas de algodão, estampados de listras ou bolinhas, indicam um operário. Mas só os operários muito especializados, como os da indústria eletroeletrônica, têm certas regalias, donde há poucos pijamas de algodão circulando. Já os pijamas de seda, que custam até US$ 80 nos grandes magazines, indicam corretores imobiliários, funcionários do mercado financeiro ou aspones de luxo, que já os há em quantidade na China.
E atenção para a padronagem. Pijamas estampados de pandas estão em baixa. O último grito são os que combinam vermelho e amarelo e vêm com imagens alusivas à defunta Revolução Cultural.


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