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GUSTAVO FRANCO
Números da crise
AS PERDAS de bancos no exterior, em decorrência da
crise das hipotecas de baixa
qualidade, ou das operações estruturadas alavancadas turbinadas e
difíceis de explicar, continuaram
estonteantes no segundo trimestre
de 2008.
Para avaliar esses números, convém separar os atingidos em dois
grupos. Um que vamos chamar de
"protagonistas", composto de uma
dúzia exata de bancos, e outro
compreendendo a totalidade dos
envolvidos.
Os protagonistas tiveram perdas
reconhecidas em seus balanços no
valor de US$ 275 bilhões, mas conseguiram se recapitalizar em cerca
de US$ 210 bilhões. Para o grupo
maior, as perdas estariam rondando os US$ 500 bilhões, e as recapitalizações, atingindo cerca de US$
350 bilhões.
Para os 12 protagonistas, vale
ressaltar que o seu patrimônio,
com esse capital novo e com algumas aquisições, aumenta de US$
810 bilhões para US$ 870 bilhões.
Mas o valor de mercado desses 12
bancos, que era cerca de US$ 1,5
trilhão, ou seja, algo próximo do
PIB do Brasil, está hoje em cerca de
US$ 1 trilhão, ou seja, 15% a mais
que o seu patrimônio. Esse "ágio"
já esteve bem mais baixo logo antes
do anúncio dos resultados do segundo trimestre, mas experimentou uma boa recuperação.
No grupo de protagonistas, todavia, há diferentes situações. Há casos de bancos que perderam 100%
do patrimônio que tinham antes da
crise e se recapitalizaram quase totalmente. Outros já tiveram sérias
crises de liquidez, resolvidas graças
a novos mecanismos de financiamento disponibilizados pelos bancos centrais dos EUA e da Europa.
E há os casos das grandes securitizadoras "patrocinadas" pelo governo americano, Fannie Mae e Freddie Mac, que talvez tenham perdas
maiores que esse grupo todo e que
nem estão nessa conta.
Há muitas novidades nesta crise.
A maior delas talvez seja a facilidade com que apareceram US$ 350
bilhões para comprar novas ações
de bancos internacionais de excelente reputação, mas em dificuldades muito profundas. A maior parte desse dinheiro, senão a totalidade dele, veio de fundos soberanos
de riqueza de países asiáticos e do
Oriente Médio. É difícil imaginar
que esse dinheiro fosse aparecer na
ausência dos fundos soberanos ou
que esses fundos pudessem se tornar acionistas importantes desses
bancos com esta facilidade em condições normais.
O fato é que, se os governos fossem implicar com os fundos soberanos, tudo isso iria custar muito
caro para o contribuinte. Na verdade, é como se o contribuinte da
"periferia" estivesse aliviando o do
"centro". Prebish e Furtado deveriam estar vivos para testemunhar
este fenômeno.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta coluna.
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