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ROGÉRIO GENTILE
Medicina paliativa
O DADO é assustador: um em
cada quatro médicos do país
se forma em cursos "sem
condições de funcionamento", segundo a qualificação dada pelo próprio Ministério da Educação para
aqueles que obtiveram notas baixíssimas (1 e 2) na última avaliação
nacional de desempenho.
Se não têm condições de funcionar, por que foram abertos? E por
que não são fechados? São as questões óbvias que o governo federal
não consegue responder.
O primeiro curso superior de
medicina do país -a Escola de Cirurgia da Bahia- data de fevereiro
de 1808, obra de d. João 6º. Foi
criado logo após a corte portuguesa
fugir para o Brasil. Até 1994, segundo registros oficiais, apenas outros
80 foram abertos, entre instituições públicas (48) e privadas (32).
FHC e Lula, no entanto, acharam que estava na hora de melhorar esses números. Hoje, de acordo
com o último censo universitário
(2006), o país tem 158 cursos de
medicina (88 privados). Ou seja,
em 12 anos, eles quase dobraram o
que foi feito em 186 anos.
A proliferação dos cursos de medicina -muitos dos quais abertos
apesar de pareceres contrários do
Conselho Nacional de Saúde- faz
parte da política deliberada dos
dois presidentes de melhorar artificialmente os índices educacionais do Brasil.
O tucano pegou o país com 5.562
cursos superiores (1,66 milhão de
alunos) e entregou com 14.399 cursos (3,47 milhões estudantes).
Com Lula, já são 22.101 cursos (4,67 milhões de matriculados).
O crescimento do número de
universitários enche o peito do político e tem também o efeito de
agradar aos que ganham muito dinheiro com isso. Sabe quanto custa
a mensalidade num desses cursos
de medicina "sem condições de
funcionar"?: R$ 3.986.
O ônus dessa política fica mais
evidente quando se verifica em
qual escola se formou o profissional denunciado por erro médico.
Em 2005, o Conselho Regional de
Medicina de SP constatou que a taxa de queixa contra médicos formados nos cursos com as piores
notas representava mais que o dobro da registrada contra os formados nos cursos bem avaliados.
Certo está o médico Antonio
Carlos Lopes, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, quando diz
que o ministro da Educação é
"bem-intencionado", mas que duvida de que ele terá força para adotar medida dura contra esses cursos de esquina. "É mais fácil cair o
ministro do que fechar uma faculdade", disse.
A bem da verdade, o mais provável é que em algum momento seja
criado um exame de ordem, nos
moldes do que existe para os advogados. Trata-se de uma medida necessária, porque pode salvar vidas.
Mas que punirá apenas o aluno que
não passou na prova. As instituições capengas, nas quais esse aluno
perdeu tempo e dinheiro, continuarão capengas e... lucrando.
ROGÉRIO GENTILE é editor de Cotidiano.
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