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RUY CASTRO
Terror absoluto
RIO DE JANEIRO - Compete em
barbarismo e ferocidade com o caso
da menina Isabela e o casal Nardoni. Dois garotos, Igor, 12 anos, e
João Vitor, 13, foram mortos na última sexta-feira em Ribeirão Pires,
Grande São Paulo, asfixiados com
sacolas de plástico, de supermercado. Depois tiveram seus corpos embebidos de querosene e incendiados. O que sobrou desses corpos foi
esquartejado com uma foice; os pedaços, enfiados em sacos pretos e
deixados na rua para os lixeiros, que
os descobriram. Os acusados são o
pai e a madrasta das crianças.
Apenas isso já seria insuportável.
Mas o que mais me abala é que os
meninos sabiam que algo lhes aconteceria. O pior terror não vem do
mal que se abate sobre nós, mas da
consciência de que esse mal virá, e
só não sabemos como, nem quando.
Segundo o noticiário, há três anos
as autoridades de Ribeirão Pires conheciam a situação de Igor e João
Vitor, na forma de boletins policiais
de ocorrência contra o pai e a madrasta por maus-tratos sobre eles.
Depois de mais denúncias de crueldades, os meninos foram mandados
em 2007 para um abrigo, onde ficaram nove meses, a salvo de seus
algozes.
No começo deste ano, tiveram de
deixar o abrigo e voltar para casa.
Os maus-tratos continuaram. No
meio da semana passada, eles fugiram e, na delegacia, pediram para
ser mandados de novo para o abrigo. Estavam com muito medo. Os
responsáveis pelo conselho tutelar
consideraram o apelo sem fundamento -os meninos não tinham
marcas de espancamentos e os
maus-tratos foram classificados como "fantasia". A conselheira levou-os pessoalmente para a casa do pai.
Dois dias depois, Igor e João Vitor
apareceram mortos.
Este é o terror absoluto -quando
as pessoas a quem imploramos ajuda nos entregam, por imperícia ou
descaso, a nossos assassinos.
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