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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Entre a cruz e a espada
Vinte e quatro horas após a dupla
vitória do presidente George W.
Bush ao fazer maioria na Câmara e no
Senado dos Estados Unidos, o Federal
Reserve fez uma dramática redução
dos juros básicos, baixando de 1,75%
para 1,25% ao ano. Quinze dias antes
da eleição do novo presidente da República do Brasil, o Banco Central aumentou os juros básicos de 18% para
21% ao ano.
São dois extremos do mesmo mundo globalizado. Nos Estados Unidos,
as autoridades monetárias são levadas
a baixar os juros para ativar a economia e evitar a deflação. No Brasil, elas
têm de elevar os juros para desativar a
economia e segurar a inflação.
Os Estados Unidos estão com juros
negativos -bem abaixo da inflação,
estimada em 1,5% para 2002. O Brasil
está com juros absurdamente positivos -bem acima da inflação, estimada em 8% para o mesmo ano. Quem
aplica em títulos do governo na América perde, no mínimo, 0,25% ao ano;
no Brasil, ganha, no mínimo, 13% ao
ano.
Com juros tão negativos, é normal
que muitos investidores americanos
comecem a procurar outros países para fazer o seu capital render. No passado, eles corriam para o Brasil para fazer investimentos especulativos do tipo "bicicleta" -que iam e vinham
conforme a rentabilidade do mês, da
semana ou do dia.
Sempre condenamos esses investimentos porque em nada contribuíam
para aumentar a oferta de produtos,
as exportações e a geração de empregos -o que só pode ser conseguido
com investimentos produtivos de longa duração.
O fato é que, agora, nem mesmo os
especuladores se animam a vir para cá
-apesar dos juros negativos dos Estados Unidos e positivos aqui.
Ninguém, em sã consciência, deve se
lamentar por ter perdido a participação dos especuladores na ciranda financeira do Brasil. Mas o seu desaparecimento chega a preocupar.
Se nem os capitais especulativos
vêm para o Brasil, o que esperar dos
capitais produtivos?
Está aí um dos maiores desafios do
novo governo: restaurar a credibilidade na economia brasileira e atrair para
o país investidores que apliquem em
atividades produtivas. Tudo indica
que só chegaremos nesse ponto depois dos governantes provarem por a
+ b que vão fazer as reformas da Previdência, tributária e trabalhista.
É com base nessas reformas que poderemos enfrentar os graves problemas sociais que afetam a maioria dos
brasileiros. Serão elas que darão a "senha" aos capitais produtivos, deixando claro que o Brasil está realmente
disposto a consertar seus desequilíbrios e a explorar suas potencialidades
internas e externas.
Esses temas podem entreter os participantes do chamado pacto social,
mas a solução técnica, política e definitiva terá de ser dada pelos integrantes do Congresso Nacional. Eles são os
legítimos protagonistas para realizar
as reformas. Os demais são atores
coadjuvantes.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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