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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Pessimismo não, realidade sim!
Em seu último número, a revista
"Update", da Câmara Americana
de Comércio, publicou uma série de
tristes referências ao generalizado
desperdício que ocorre neste país.
Passo ao leitor algumas delas.
O Brasil perde, todos os anos, enormes quantidades de água, eletricidade, materiais de construção, grãos,
frutas, hortaliças e produtos de origem animal. Centenas de milhares de
postos de trabalho são destruídos
anualmente devido ao fechamento
prematuro de pequenas empresas.
Quase 18 mil vidas se vão, em decorrência de homicídios banais.
São desperdícios que ultrapassam,
em muito, o que se perde nos países
avançados nas mesmas áreas.
A lista de perdas é enorme. O Brasil
tem um custo de manutenção dos caminhões que é o dobro do praticado
nos Estados Unidos, devido às precárias condições da maioria das rodovias do país. É calamitoso o desperdício devido à baixa velocidade dos veículos que trafegam em estradas esburacadas e perigosas. São imensas as
perdas decorrentes de roubos e furtos
de cargas (Antônio Graça, "País do
Desperdício", "Update", abril de
2004).
Quando se soma tudo isso, pergunta-se: como pode um país sobreviver
com tantas perdas? E, por cima de tudo, há as perdas decorrentes da ineficiência da máquina pública que cobra
cada vez mais caro e entrega cada vez
menos serviços.
As causas desse monstruoso desperdício são múltiplas. De um lado, há o
desleixo do próprio governo na manutenção e ampliação da infra-estrutura. De outro, há a falta de civismo da
população em geral, com raras exceções. Quando se juntam as más políticas à ineficiência administrativa e às
condutas perdulárias de muitas pessoas, o resultado aí está.
Ninguém conseguiu quantificar o
desperdício. Mas, certamente, ele ultrapassa, de longe, o que o governo
procura obter como superávit primário -4,25% do PIB. Não seria o caso
de o poder público encetar uma grande campanha de economia na sua
própria máquina e de educação para a
população? Não seria o caso de fixar
metas claras contra tais perdas para
serem alcançadas ano a ano?
O que se vê é o contrário. Por anos a
fio, o governo só aumentou suas despesas, financiando-as com mais impostos e com empréstimos contraídos
a juros exorbitantes, que acabaram
sendo pagos -e continuam sendo
pagos- pelos próprios contribuintes.
Nesta semana mesmo vi na imprensa
que a máquina pública (federal, estadual e municipal) está prestes a dar a
partida no maior trem da alegria da
história brasileira, tendo a bordo mais
de 100 mil funcionários públicos! Ora,
se a ordem é combater os desperdícios, como conciliar esse objetivo com
a referida gastança?
Somos ou não somos perdulários?
Até quando poderemos manter um
governo caro em um país tão pobre?
Mais grave do que tudo isso, como explicar que um país que tem uma enorme fartura de terra, água e luz solar
produz apenas 1% do PIB mundial?
É, a natureza nos protegeu. É preciso
que os seres humanos ajudem-na a
desenvolver a nação.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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