|
Próximo Texto | Índice
FÔLEGO CURTO
A queda expressiva da cotação
do dólar observada nas últimas
semanas dá ensejo a um alívio. A
perspectiva de que a inflação se desacelere entre este ano e o próximo,
ainda que lentamente, ficou bastante
reforçada, afastando assim o temor
de que pudesse ocorrer um processo
de reindexação.
Número crescente de analistas avalia que, menos premido pela inflação, o Banco Central (BC) poderá
animar-se a começar a cortar os juros, mesmo que com bastante cautela, agora em sua reunião de maio, o
que daria algum alento à demanda
interna. Isso tenderia a engrossar o
clima de relativo otimismo que começa a se esboçar e, portanto, poderia dar início a uma retomada do
crescimento da economia.
Não se pode ignorar que essa retomada poderia ser rapidamente interrompida na eventualidade de ocorrer
uma inflexão recessiva da economia
internacional -um risco que não está de modo nenhum afastado. Mas,
admitindo que as autoridades dos
países ricos se revelem capazes de
manter suas economias em expansão, mesmo que moderada, tem-se a
impressão de que a retomada do
crescimento da economia brasileira
poderia ter continuidade.
Essa é a avaliação expressa pela média das projeções das instituições financeiras e consultorias, a qual, segundo apuração do BC, aponta para
alta do PIB da ordem de 3% em 2004
e 3,5% em 2005.
Cabe questionar, porém, qual seria
o fôlego dessa expansão esperada.
Em particular, importa discutir até
que ponto ela tenderia a se revelar
compatível com a preservação de um
superávit alto na balança de comércio exterior do país. Isso porque a
corrosão desse superávit dificultaria
imensamente o aumento das reservas de divisas do BC (que continuam
muito baixas) e, ao colocar as contas
externas novamente em posição frágil, tenderia a levar a uma nova freada
da atividade econômica.
Esses surtos breves de crescimento, interrompidos devido ao surgimento de estrangulamentos nas
contas externas, têm sido recorrentes no Brasil desde os anos 80. Dois
aspectos parecem especialmente relevantes para que essa sequência de
"vôos de galinha" possa ser interrompida. Ambos dizem respeito à
viabilização de investimentos no setor exportador e na substituição de
importações.
Vários setores exportadores (como
o siderúrgico e o de papel e celulose)
já estão operando praticamente no limite da capacidade produtiva. E diversos outros setores (como bens de
capital, química, telecomunicações,
informática) tenderão a pressionar
fortemente as importações à medida
que a demanda interna se reaquecer.
Nos dois casos, a aceleração dos investimentos aparece como fundamental para reforçar a capacidade de
produção nacional e preservar o superávit comercial a partir de 2004.
O primeiro fator importante para
viabilizar esses investimentos é a cotação do dólar. Se a moeda americana permanecer abaixo de R$ 3 até o
final deste ano, o dano imediato ao
saldo comercial poderá não ser tão
relevante, mas haverá pouco estímulo à aceleração dos investimentos. O
segundo fator é a mobilização da política industrial: um desafio para o
governo, que exigirá superar anos de
relativa paralisia dos órgãos públicos
do setor e vencer resistências, inclusive ideológicas, à articulação de estímulos públicos a investimentos estratégicos para o país.
Próximo Texto: Editoriais: O PÓS-GUERRA Índice
|