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O PÓS-GUERRA
Com as tarefas básicas do dia-a-dia voltando ao normal no Iraque, os EUA pediram à ONU que levante as sanções que havia 13 anos
pesavam contra o país. O gesto representa uma tentativa de normalização das relações de Washington
com as Nações Unidas e, por extensão, com o mundo, mas dificilmente
as coisas voltarão a ser como antes
da deflagração da guerra.
Com efeito, os alicerces da geopolítica global foram profundamente alterados pelo conflito, que foi decidido de modo quase unilateral pelo
presidente George W. Bush e sob a
oposição de boa parte dos governos
mundiais. Ao longo dos últimos 50
anos, os EUA se envolveram na criação e consolidação da ONU e de um
sistema de segurança multilateral. É
verdade que esse esforço se viu em
larga medida bloqueado pela paralisia resultante do antagonismo entre
EUA e União Soviética durante a
Guerra Fria. Mas, depois do colapso
do bloco soviético no final dos anos
80, pareceu que seria possível criar
um sistema de segurança multilateral efetivo. George Bush pai foi um
dos presidentes norte-americanos
que se empenharam nesse projeto.
Com altos e baixos, avanços e retrocessos, as coisas pareciam de fato
caminhar nesse sentido. Só que vieram o 11 de setembro e a resposta
americana. Para a incursão no Afeganistão os EUA obtiveram apoio mundial. Já no caso do Iraque, o que conseguiram foi criar uma rara maioria
mundial contra Washington. Bush
fez a guerra e venceu, mas, no caminho, desgastou a ONU e a Otan
(aliança militar ocidental) e dividiu a
União Européia e a opinião pública
internacional. Numa visão menos
indulgente, ele simplesmente solapou o sistema de segurança internacional, a coalizão antiterror e a idéia
de comunidade das nações.
Mesmo agora, passada a guerra,
Bush parece pouco disposto a reconciliar-se de verdade com a ONU. Só
oferece à organização um papel secundário na reconstrução do Iraque.
O conflito demonstrou que os EUA
detêm a supremacia militar no planeta. Nenhum país é páreo para a fabulosa máquina de guerra norte-americana. A vitória reforçou ainda o
poder dissuasivo de Washington.
Outros países com os quais os EUA
mantêm relações tensas, como a Coréia do Norte, o Irã e a Síria, parecem
ter compreendido o recado dado a
Saddam Hussein e quase automaticamente moderaram suas posições.
A tendência agora é que a poeira baixe e que os EUA, aos poucos, voltem
a valorizar a ONU e a diplomacia.
A aventura iraquiana pode até ser
vista como uma vitória pelos "falcões" do governo Bush, mas, para o
mundo, o fato é que o multilateralismo nas relações internacionais retrocedeu bastante.
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