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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Os tempos das reformas
As reformas previdenciária e
tributária foram lançadas. Agora,
a bola está com o Congresso Nacional.
O governo tem pressa, e com razão.
No caso da Previdência Social, dados
publicados pela Folha na edição do
dia 4/5 indicam que a dívida das empresas inadimplentes e do setor informal com o INSS chegou à espantosa
soma de R$ 180 bilhões! Além disso, o
déficit previdenciário em 2003 será de
quase R$ 80 bilhões.
São números colossais e suficientes
para quebrar qualquer sistema de seguridade social. É por isso que o governo tem pressa. Esses ralos precisam ser fechados imediatamente.
Aliás, nunca deveriam ter sido abertos.
Da mesma gravidade é o desequilíbrio gerado pelo atual sistema tributário. Os poucos que recolhem impostos pagam o equivalente a mais de
36% do PIB. É uma monstruosidade
que não existe em nenhum país de desenvolvimento semelhante ao do Brasil. Isso onera a produção, desestimula os investimentos, inibe as exportações e castiga os trabalhadores, fazendo faltar empregos e sobrar trabalho
informal.
A data foi marcada. O governo espera uma aprovação das duas reformas,
em primeiro turno, até o fim de junho. Começa-se a ouvir que o prazo é
curto. Mas essa é a hora de os parlamentares assumirem seu espírito patriótico e trabalharem dia e noite, de
segunda a sábado, como fazem os demais brasileiros.
Não! Desta vez não há desculpas. Os
projetos são conhecidos, foram publicados na imprensa, atingem os pontos críticos e resolvem os problemas
de forma bastante razoável, deixando
o ideal para mais tarde. Portanto é hora de arregaçar as mangas e de resolver a questão.
Começará a ser discutida também a
reforma trabalhista, que é igualmente
crucial para estimular a geração de
postos de trabalho, reduzir a informalidade e melhorar a arrecadação da
Previdência Social.
A reforma trabalhista, porém, tem
peculiaridades muito próprias. Nas
reformas previdenciária e tributária,
os governos são arrecadadores e pagadores -e os rombos estão escancarados e travando o desenvolvimento
do país.
No caso da reforma trabalhista, os
governos não são arrecadadores, pagadores ou empregadores (a não ser
no caso das empresas estatais). Seu
papel principal é criar um ambiente
propício para que os representantes
de empregados e de empregadores redefinam, calmamente, as regras que
presidem o seu relacionamento. Não
cabe ao governo ditar normas nesse
campo. Cada ponto será objeto de
longa discussão, como são os casos da
mudança na jornada de trabalho, da
modificação das regras de uso de hora
extra, dos critérios de dispensa, das
formas de remuneração e de tantos
outros temas que, pela sua complexidade, exigem um acerto direto entre
as partes antes de serem remetidos ao
Congresso Nacional.
O ministro do Trabalho empenha-se em criar aquele ambiente para as
partes examinarem todas essas questões até o fim de 2003.
É um prazo razoável para uma reforma de extrema complexidade. São
três reformas e três tempos diferentes.
A mais urgente é a previdenciária. Em
seguida, a tributária, e, por fim, a mais
difícil de todas, a trabalhista.
Mas é preciso enfrentá-las. O Brasil
terá mudado de face se inaugurarmos
2004 com novas regras nos três campos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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