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CARLOS HEITOR CONY
Tudo como antes
RIO DE JANEIRO - A aprovação popular ao governo Lula continua alta.
Em parte porque alguns índices econômicos permanecem estáveis com
tendência a se fixarem em patamar
confortável. Em parte também pela
colossal expectativa que a sua eleição
abriu para a grande massa do população.
Contudo são cada vez maiores e
mais graves os recuos e confusões da
equipe que integra o primeiro escalão. Na semana que acabou, tivemos
a vitória de dois lobbies sobre as intenções do governo. Na questão da
Previdência, problema prioritário há
muito, ameaçando uma falência que
provocará convulsão social, os 90 mil
processos de maus pagadores terão
mais uma vez a oportunidade de rolar com a barriga a apropriação indébita do dinheiro arrecadado dos
salários da classe trabalhadora.
É um crime, um roubo, e, se de um
lado o que interessa ao governo é o
pagamento da dívida, de outro a sucessão de oportunidades para a negociação adia para um futuro que nunca chega o momento de verdade.
Durante décadas, o PT, com Lula à
frente, bradava que a falência do sistema previdenciário era decorrência
da tolerância dos governos comprometidos com as elites, com as multinacionais etc. etc.
Com quatro meses no poder, o petismo oficial se submete aos mesmos
argumentos dos devedores: o importante é pagar, ou prometer pagar. E,
de Refis em Refis, o sistema da Previdência foi para o ralo e do ralo entrou
pelo cano.
Outro recuo do governo, desta vez
positivo, pois foi um passo atrás na
direção certa, terminou na confraternização dos cineastas com o ministro
que administra as verbas oficiais de
apoio à cultura.
O dirigismo estatal é uma das aberrações mais nefastas de qualquer regime totalitário.
Mas o recuo revelou que o governo
não tem como resistir a nenhum
lobby, seja positivo, como o dos cineastas, seja negativo, como o dos depositários infiéis do dinheiro de todos
os trabalhadores.
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