|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Ressurreição
BRASÍLIA - Há muitas coincidências entre José Dirceu, o homem forte na
política de Lula, e Sérgio Motta, o homem forte na política de FHC. Isso
vale para as qualidades, que não são
poucas. E para os defeitos, que se avolumam com a chegada ao poder.
Dirceu, como Serjão, apaixonou-se
desde jovem pela política, respirou e
viveu política. Dos sonhos juvenis para as articulações partidárias, e delas
para o pragmatismo que vence eleições e mantém o poder. Até o "pode-tudo". Longo caminho. Sem volta.
Serjão era um obsessivo que comia
muito, falava pelos cotovelos, tinha
idéias borbulhantes e era, acima de
tudo, um "operador". No jargão político, é quem viabiliza apoios, recursos, campanhas, até partidos e candidatos. Mas, como não era bom produto eleitoral, apegou-se a FHC. Um
fazia acontecer, o outro acontecia.
José Dirceu também é um obsessivo,
capaz de viver anos com uma mulher
que amava sem lhe revelar a identidade, nem mesmo o verdadeiro rosto.
Em nome de uma causa. Um homem
capaz de segredos tumulares -ou de
qualquer coisa- pela política.
Ao chegar ao poder com FHC, Serjão liberou FHC para brilhar e foi a
mão-de-ferro que comprava o que tinha de comprar, calava o que tinha
de calar e lutava para manter o barco
no rumo centro-esquerda. Custasse o
que custasse. Até sua imagem.
Ao chegar ao poder com Lula, Dirceu é a mão-de-ferro que se infiltra
pelos acertos partidários e congressuais, pelas negociações da fusão de
companhias aéreas, pelo tira-e-bota
das reformas da Previdência e tributária. Encrencou com Itamar? Chama o Dirceu. Incomodou o Aécio?
Chama o Dirceu. E acaba funcionando, como num passe de mágica. Ou
de compromissos e promessas.
Palocci, na Fazenda, toureia a economia como Malan. Mercadante, no
Senado, cobra mexidas na economia,
como Serra. Dirceu, no Planalto, é o
onipresente que faz e diz o que Lula
não pode fazer nem dizer diretamente. Como Serjão e FHC.
O preço que a política, o governo e a
fidelidade cobraram de Serjão foi
imenso. Com Dirceu, será diferente?
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Um Palocci para o social Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tudo como antes Índice
|