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SALDO ESTRUTURAL
Autoridades da área econômica têm afirmado que o forte
crescimento das exportações constitui uma novidade estrutural na economia brasileira da qual muitos ainda não se deram conta. De acordo
com essa visão, o país revela capacidade de crescer sem deixar de obter
saldos comerciais expressivos -o
que ajuda a conferir mais estabilidade à cotação do dólar e à inflação e
melhores condições para reduzir os
juros. Ao lado das chamadas reformas "microeconômicas" propostas
pelo governo, isso configuraria um
ambiente mais propício ao investimento e ao crescimento sustentado.
Há muito esta Folha vem insistindo
que obter superávits mais volumosos
no comércio exterior constitui um
requisito para a superação do quadro
de extrema vulnerabilidade das contas externas que tanto prejudicou a
economia nos últimos anos.
A história econômica do país, no
entanto, fornece exemplos eloqüentes da necessidade de guardar cautela
em relação ao caráter supostamente
"estrutural" do superávit comercial.
A discussão que ora se esboça -e
tem de ser aprofundada por sua importância para as perspectivas do
país- remete a um debate desenvolvido em meados dos anos 80.
Naquela época (que guarda significativas analogias com a atual), o Brasil emergia de um doloroso processo
de "ajuste" depois de um ciclo de forte endividamento externo. Após três
anos de recessão, reforçada por forte
achatamento salarial, e de uma desvalorização cambial sensível, a partir
de meados de 1984 a economia voltava a crescer e obtinha superávits comerciais recordes.
As autoridades do governo Figueiredo reivindicavam a paternidade
desse feito, que seria prenúncio de
uma retomada duradoura da economia. Já analistas da oposição ao regime militar argumentavam que o superávit era "filho", basicamente, da
contração do mercado interno e da
desvalorização do câmbio e, por isso, tenderia a ser corroído à medida
que o mercado interno se reerguesse.
Alguns, no entanto, julgavam que o
superávit teria caráter duradouro por
refletir mudanças na estrutura produtiva propiciadas pelo ciclo de investimentos estimulado pelo governo Geisel e seu Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento.
Embora tais mudanças fossem inequívocas (vários elos da cadeia industrial foram internalizados, substituindo importações e diversificando as exportações), nos anos seguintes a economia não se revelou capaz
de compatibilizar crescimento e saldos comerciais altos. Em particular
nos momentos em que o mercado
interno cresceu rapidamente -como em 1986, sob o Plano Cruzado, e
no início do Plano Real-, o saldo
comercial foi subitamente corroído.
Um dos fatores que mais contribuíram para isso foi o fato de que -em
meio a uma aceleração global das
inovações e do progresso técnico- a
pauta de exportações do país se manteve baseada em bens de menor grau
de elaboração, que contam com demanda externa menos dinâmica.
Esse quadro pouco mudou nos últimos anos -até porque os investimentos se mantiveram baixos, assim
como a capacidade da economia de
gerar e difundir inovações tecnológicas. Logo, saudar o crescimento recente das exportações brasileiras não
nos deve impedir de perceber que, do
ponto de vista qualitativo, elas continuam frágeis. Por isso mesmo,
olhando para o médio e longo prazo,
cabe manter reservas quanto à sustentabilidade do saldo comercial.
Ainda é necessário definir e implementar políticas capazes de efetivamente compatibilizar, ao longo do
tempo, um crescimento vigoroso e
sustentado do mercado interno com
a preservação de uma posição saudável nas contas externas.
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