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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Coerência: o pensar e o falar
É bom verificar que a atual campanha eleitoral está sendo marcada
pelo debate em torno de uma das
principais virtudes dos estadistas -a
coerência.
Ser coerente é importante para qualquer um. A coerência é a irmã gêmea
da confiança. Uma nasce da outra. A
mulher e o marido esperam coerência
recíproca, pois é nela que surge a necessária confiança. Os consumidores,
da mesma forma, demandam coerência dos produtores, pois é isso que os
leva a confiar nos bens e serviços que
adquirem. Os eleitores, igualmente,
precisam de coerência para confiar e
votar nos candidatos.
A coerência é mais frequente entre
as pessoas que meditam antes de agir.
Ela se forma como fruto de análises
cuidadosas das pessoas e dos fatos. Isso vale para o homem e a mulher, para
consumidores e produtores e para
eleitores e candidatos.
A incoerência, claro, é o contrário de
tudo isso. As decisões dos incoerentes
são tomadas de forma precipitada ou
com base em interesses imediatos.
Nada é mais devastador para a coerência quando candidatos se põem a
pregar o contrário do que fizeram a vida inteira com o simples objetivo de
ganhar a eleição.
Os eleitores não são tolos. No Brasil,
esta não é a primeira experiência eleitoral do nosso povo. A maioria dos
brasileiros apreendeu muito nas eleições passadas. O uso das pesquisas, do
marketing e da propaganda consegue
muita coisa, mas tem seus limites. Nenhum deles consegue transformar o
incoerente em coerente para, num
passe de mágica, transportar o eleitor
da área da desconfiança para a área da
confiança quando este vê na boca dos
candidatos idéias opostas às que sempre defenderam.
Como podem os que enalteceram o
calote nas dívidas interna e externa
(através de uma aprovação plebiscitária) convencer os eleitores a aceitar o
acordo firmado entre o Brasil e o FMI?
É muita incoerência. Afinal, esse acordo está gerando mais dívidas, e o país
está dizendo que vai honrá-las.
Esse é apenas um exemplo de incoerência, e deixa o eleitor aturdido e com
o direito de perguntar: Os candidatos
que viram a casaca com essa facilidade, afinal, mentiram no passado ou estão mentindo agora? Você compraria
uma casa que foi condenada pelo corretor no passado e agora é por ele recomendada?
No caso do acordo com o FMI, os
candidatos, depois de eleitos, não precisam aceitar os recursos aprovados.
Se quiserem manter um mínimo de
coerência, basta dizer aos brasileiros
que, uma vez empossados, rejeitarão
os US$ 24 bilhões que estão reservados para o seu primeiro ano de governo.
Caberá ao eleitor acreditar ou não
nessa inusitada assertiva. Será que há
algum governante, de carne e osso,
que venha a rejeitar uma importância
desse porte no meio da escassez de recursos que marca a vida do país?
Em suma, para quem valoriza a coerência, é aconselhável agir depois de
pensar e sopesar antes de falar.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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