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Guerra no Cáucaso
Com o multilateralismo desfigurado, fica muito difícil interpor resistência ao expansionismo russo, em exibição na Geórgia
OS MILITARES russos, havia alguns anos, esperavam apenas um pretexto para invadir a
Ossétia do Sul, Província separatista da Geórgia.
A ascensão de um líder nacionalista na Geórgia, que ambiciona retomar o controle da Província rebelde e alinhar de vez o país
a Washington, eriçou o plano de
Moscou. Uma ofensiva militar
georgiana contra milícias separatistas na capital sul-ossetiana,
na sexta-feira, foi o estopim.
Tornou-se lugar-comum identificar os conflitos que pululam
pelo Cáucaso ao colapso da
União Soviética. Embora esse
não deixe de ser o pano de fundo
das rivalidades, vem sendo progressivamente ultrapassado, em
importância, por uma nova realidade regional, determinada pela
reafirmação do poderio econômico, político e militar da Rússia.
A passagem de Vladimir Putin
pelo Kremlin consumou a recuperação de um país que saíra do
experimento socialista depauperado, fragmentado e desmoralizado. No plano interno, Putin reconcentrou o poder, reprimiu e
dissipou a oposição política e debelou, manu militari, focos separatistas, como na Tchetchênia.
Na frente externa, equipou-se
para confrontar as tentativas dos
Estados Unidos de aumentar sua
influência no Leste Europeu.
Os meios de persuasão de Moscou já não se nutrem apenas da
capacidade de destruição nuclear. As características do novo
ciclo de ascensão econômica da
Rússia, país essencial para garantir o suprimento europeu de
gás natural e petróleo, tornaram-se armas diplomáticas cruciais
para o Kremlin. França e Alemanha, dependentes da energia
russa, ajudaram a congelar os
planos para a admissão da Geórgia e da Ucrânia na Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.
Como o neo-expansionismo
russo imita o americano e se
aproveita da desfiguração dos
mecanismos de governança multilateral, fica muito difícil resistir
à força bruta dos generais de
Moscou, agora em exibição na
Ossétia do Sul.
"A Geórgia é uma nação soberana, e a sua integridade territorial precisa ser respeitada", disse
o presidente George W. Bush.
Como falta informação fidedigna
a respeito desta guerra no Cáucaso, é impossível dizer se tal
preceito, básico para a convivência entre as nações, foi rompido.
A Rússia alega que só agiu para
socorrer as forças de paz que sustentava no encrave separatista,
com base num acordo internacional. A Geórgia, por sua vez,
afirma que a agressão militar
russa ao território georgiano não
se restringe à Ossétia do Sul.
Salta aos olhos, contudo, a fraqueza do sistema internacional
para mediar o conflito e obter
um cessar-fogo imediato. Basta
lembrar que Bush, o paladino da
soberania da Geórgia, liderou a
invasão militar de um país soberano, em desafio aberto à ONU.
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