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MARCOS ANTONIO CINTRA
Gestão de ativo
COM A desregulamentação financeira, a gestão da riqueza
passou a depender, crescentemente, de estratégias de diversificação dos ativos (compra e venda
de moedas, commodities, petróleo,
título de dívidas, ações, derivativos
etc.). Por conseguinte, a negociação de ativos (trading) transformou-se na principal atividade dos
sistemas financeiros.
A concorrência levou os administradores de portfólio a utilizar
derivativos e tomar créditos no
mercado, oferecendo a própria carteira como garantia, para operar
volumes crescentes de recursos, às
vezes muito acima do patrimônio,
com o objetivo de maximizar ganhos de capital. Nesse processo,
houve a junção das estratégias das
grandes instituições financeiras
com a expertise dos fundos hedge.
A despeito de possuírem ativos
de US$ 1,4 trilhão, os fundos hedge,
com os recursos emprestados,
multiplicam suas aplicações por
meio de operações complexas e
opacas. Os bancos (com ativos globais de US$ 63,5 trilhões) e os investidores institucionais (com US$
46 trilhões) emulam suas estratégias e amplificam o volume de capital nos movimentos iniciados pelos
"hedge funds". Os sistemas financeiros interligados passam a ser
condicionados pelas decisões desses fundos de investimento, que
determinam o sentido dos movimentos de valorização e desvalorização dos estoques de ativos mobiliários e imobiliários mundiais.
Em momentos de estabilidade,
esses investidores ampliam suas
aplicações de maiores riscos. Na
incerteza, com o aumento excessivo das oscilações dos preços dos
ativos, precipitam uma busca frenética pela redução das posições
mais arriscadas, e ordens maciças
de venda são disparadas pelos modelos de avaliação. Como todos os
agentes relevantes acabam seguindo a mesma estratégia de gestão de
riscos para orientar seus investimentos, o mercado financeiro global fica sujeito a ondas de euforia,
que podem gerar bolhas especulativas, e ondas de turbulências.
Nesse momento de aversão ao
risco, os grandes investidores globais vendem ações, moedas e bônus de países emergentes, como o
Brasil, commodities, petróleo e
compram títulos do Tesouro americano, a despeito da crise em seu
sistema financeiro.
Até o momento, as medidas tomadas para conter essas ondas de
instabilidade têm sido ad hoc sob o
ímpeto das necessidades mais prementes para evitar a propagação do
risco sistêmico. Todavia, vai ficando evidente a necessidade de uma
re-regulação desse sistema, em que
todos os agentes (e indivíduos) viraram fundos hedge, pois adotam
agressivas estratégias financeiras.
O Congresso americano discute
amplo projeto de reforma de suas
instituições de supervisão e regulação. Pode ser um começo.
MARCOS ANTONIO CINTRA é da equipe de editorialistas da Folha . Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Kenneth Maxwell, que escreve às
quintas-feiras nesta coluna.
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