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DEPOIS DA BOLHA
Durante a campanha eleitoral, um grupo de analistas alertava para o caráter transitório na alta
dos preços. A hipótese da "bolha inflacionária" vem sendo demonstrada. Havia de fato uma grande incerteza política, motivada tanto pela
suspeita de que uma vitória oposicionista traria rupturas na ordem econômica quanto pela realidade objetiva de uma economia em graves dificuldades para honrar compromissos
externos. O medo do desconhecido
levou os agentes econômicos a se refugiar no dólar, contribuindo para
mais uma crise cambial no país.
Os índices mais recentes de inflação mostram um nítido movimento
de desaceleração. O pico do que se
mostra realmente como uma bolha
inflacionária causada pela incerteza
política ocorreu em novembro do
ano passado. O IGP-M, índice em
que a desvalorização do real aparece
com nitidez, registrou 1,34% na primeira prévia de janeiro, contra 2,61%
na primeira prévia de dezembro. O
IPCA (referência na determinação da
meta de inflação), caiu de 3,02% para
2,10% entre novembro e dezembro.
Os preços no atacado caíram de
3,18% para 1,52%.
Se as pressões inflacionárias recuam com nitidez, o mesmo não
ocorre com as pressões de economistas e instituições financeiras em
favor da manutenção da política de
juros altos. A pouco mais de uma semana da primeira reunião do Copom sob o governo Lula, essas vozes
se unem para afirmar que o regime
de metas inflacionárias está ameaçado e que portanto é preciso dar continuidade ao arrocho monetário, talvez até elevar novamente as taxas de
juros (atualmente em 25% ao ano).
Ao descartar a hipótese de uma bolha inflacionária causada por fatores
de curto prazo, como a incerteza eleitoral, o Banco Central corre o risco
de dirigir a economia guiando-se pelo espelho retrovisor.
Está de volta o argumento de que a
estabilização da economia é suspeita
enquanto não ocorrer um ajuste fiscal estrutural. Sem esse ajuste, o BC
não poderia reduzir os juros. Mas como esse ajuste depende de reformas
constitucionais e outras medidas que
apenas o Congresso pode regulamentar, a política de âncora monetária prosseguiria indefinidamente.
Em benefício dos interesses financistas e em prejuízo da produção, do investimento e do emprego, ou seja, do
crescimento econômico.
O outro lado desse ajuste é o das
contas externas. A dependência financeira aumentou nos últimos
anos e, para gerar saldos no comércio exterior, freia-se a demanda doméstica. Sem esses saldos obtidos à
custa da contenção do crescimento,
faltariam ainda mais dólares e talvez
nem os recursos do FMI bastassem
para manter o país à tona.
Mesmo levando em conta o objetivo maior do ajuste externo, parece
inegável que o choque de juros motivado pela crise cambial já cumpriu o
seu papel. Os índices de inflação, em
especial os que refletem a pressão
cambial, recuam. Empresas e bancos ensaiam seu retorno ao mercado
internacional, captando divisas. A receita monetária defensiva, justificada
como antídoto para a incerteza política, perdeu razão de ser. Entrevê-se a
abertura de espaço para que se dê início a uma queda gradual dos juros, a
fim de buscar uma estabilidade não
apenas duradoura e sustentável, mas
sobretudo compatível com a retomada do crescimento econômico.
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