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PREPARATIVOS DE GUERRA
À medida que se aproxima a data mais conveniente para lançar
um ataque militar contra o Iraque, os
EUA vão deixando vazar para a imprensa seus planos, tanto para a
guerra como para a administração
do Iraque pós-Saddam Hussein.
O jornal "The Washington Post",
por exemplo, indicou que a força inicial de ataque terrestre poderá exceder 100 mil homens e incluir quatro
divisões pesadas do Exército, uma
divisão aerotransportada, uma divisão dos fuzileiros navais e várias unidades de forças especiais. O periódico chega a citar os nomes das divisões que deverão ser utilizadas.
Já o "The New York Times" informou que os militares norte-americanos deverão controlar o Iraque por
um prazo de pelo menos 18 meses,
depois da queda do regime. Os próprios americanos calculam que essa
será a maior ocupação militar desde
as do Japão e da Alemanha ao fim da
Segunda Guerra Mundial.
É possível que a reconstrução do
Iraque reserve mais dificuldades do
que a deposição de Saddam propriamente dita. Um dos problemas iniciais será manter o país unido. A minoria curda, por exemplo, poderia
ver-se tentada a aproveitar a confusão reinante com a deposição de Saddam para tentar estabelecer um Estado curdo há tanto tempo reclamado.
Vizinhos hostis, como o Irã, poderiam tentar acertar "manu militari"
velhas disputas territoriais.
Outra questão premente será a do
petróleo. Bush deverá logo nos primeiros momentos da invasão ocupar os campos petrolíferos. Os militares temem que, se os EUA não o fizerem, Saddam poderá, numa estratégia de guerra de guerrilhas, destruir a infra-estrutura de exploração.
É claro que isso vai reforçar o discurso dos que afirmam que o petróleo é
a verdadeira motivação para o ataque, o que pode gerar problemas políticos para os norte-americanos. É
por isso que Washington anuncia
desde já que o óleo é "patrimônio do
povo iraquiano" e que os EUA apenas ajudarão a administrá-lo.
Uma grande incógnita é como as
tropas serão recebidas. Não se sabe
se a população verá os militares norte-americanos como uma força libertadora ou como um exército invasor.
Acrescente-se a essa indefinição a
inexistência de uma oposição representativa a Saddam e ao mesmo tempo "confiável" para os EUA e percebe-se o quão difícil será a transição
da ocupação militar para a criação de
um governo provisório e, daí, para
um "Iraque democrático" como pretende a Casa Branca.
São tantas as dificuldades e as incertezas admitidas pelos próprios
norte-americanos na ocupação militar do Iraque e tão discutíveis os motivos que justificariam a deposição de
Saddam que caberia perguntar se o
presidente Bush realmente avaliou
com o devido cuidado os prós e os
contras da operação militar para derrubar o ditador iraquiano.
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