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ALGUMA COISA ACONTECE
A incerteza política abala a
percepção dos investidores e,
nas últimas semanas, instituições financeiras registraram aumento na
desconfiança com relação ao Brasil.
Mas é importante não perder de vista
os fatores negativos externos que deprimem o ânimo dos mercados.
O fator mais importante no cenário
global é a evolução da economia norte-americana. Os humores têm oscilado muito, mas, aproximando-se o
final do primeiro semestre, o sentimento que predomina é a frustração.
Para Alan Greenspan, o presidente
do Fed (banco central dos EUA), a
perspectiva de longo prazo continua
positiva, mas no curto prazo ainda
não há motivos para comemorar.
A fonte do otimismo com o longo
prazo são os indicadores de aumento
na produtividade nos EUA, como a
alta de 8,6% no primeiro trimestre
desse ano. Para Greenspan, é um sinal de que "alguma coisa acontece".
O fato inquietante, no entanto, é
que a "coisa" continua incerta. O
crescimento recente resultou principalmente do aumento na produção
provocado pela queima de estoques.
Estoques que eram mínimos.
Com base tão frágil, o crescimento
não parece sustentável e, nas últimas
semanas, os economistas passaram
a reduzir suas projeções de crescimento nos EUA para o resto do ano.
Não se pode confiar num crescimento cuja base é a queima de estoques baixos, sem recuperação dos
investimentos. O consumo dos estoques é também fonte de aumento
das importações. E o aumento no déficit comercial norte-americano leva
os mercados a desvalorizar o dólar.
Nesse contexto, os países em desenvolvimento dificilmente serão
vistos como boas oportunidades de
investimento. Embora os chamados
"mercados emergentes" tenham
apresentado, desde o início do ano,
um desempenho bastante positivo
nos mercados internacionais, foi a
perspectiva de recuperação da economia norte-americana que ajudou a
criar expectativas favoráveis.
Mas o sintoma da deterioração de
fundo nas perspectivas de investimento nesses países outrora promissores é a prioridade que o governo
Bush, os países do G-7 e o FMI vêm
dando à busca de novos mecanismos
de regulação de moratórias.
Os países ricos e o FMI buscam fórmulas de financiamento que de algum modo já incorporem, na contratação de dívidas e na emissão de títulos, cláusulas de falência ou suspensão de pagamentos.
No entanto, o mecanismo para aumentar a segurança das finanças globais coloca sob suspeita todos os
países emergentes.
Têm portanto razão os governos
desses países em resistir à idéia, que
praticamente institucionalizaria a
pecha de caloteiros aos mais pobres
do mundo, possivelmente aumentando de vez os custos do financiamento internacional a pretexto de
preservar a normalidade das operações e os interesses dos credores.
Num cenário internacional recessivo, o maior sinal de otimismo é acreditar que "alguma coisa" acontece e
trará bons resultados no longo prazo. No curto e no médio prazo, os
riscos aumentam principalmente
para os mais pobres e endividados.
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